Tranças, uma forma de empreender na periferia

 Tranças, uma forma de empreender na periferia

Ser trancista transformou a Zelma em uma empreendedora de sucesso. Foto: Canva.

Na atualidade, um termo tem ganhado destaque nas periferias: empreendedorismo. Neste artigo, vamos conhecer a Zelma, uma empreendedora de Osasco que compartilha conosco como a arte de fazer tranças a ajudou a transformar a sua realidade e a de sua família. 

O que é empreendedorismo? 

Segundo a Global Entrepreneurship Monitor – GEM (2019), “O empreendedorismo é qualquer tentativa de criação de um novo empreendimento, seja uma atividade autônoma e individual, uma nova empresa ou a expansão de um empreendimento existente.” 

Ou seja, todo trabalho realizado de forma independente é considerado empreendedorismo. Sabe aquela manicure, a cabeleireira, a designer de sobrancelhas? Todas são empreendedoras, pois procuram meios alternativos de sustento e autonomia financeira. 

Mulheres conquistam espaço no empreendedorismo 

As mulheres totalizam mais de 34% dos empreendedores no país, de acordo com pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com base em dados do IBGE, em 2022.

Além disso, 48% dos cadastros como Microempreendedor Individual (MEI) são compostos por mulheres. As áreas de atuação que se destacam são beleza, moda e alimentação. Um exemplo inspirador é Zelma, uma empreendedora que atua no segmento da beleza como trancista na cidade de Osasco. 

O início do empreendimento como trancista 

Joselma Aparecida Soares da Fonseca, mais conhecida como Zelma Trança, tem 54 anos, é mãe de 7 filhos e avó de 11 netos. Zelma conversou com a nossa equipe e compartilhou um pouco de sua trajetória no empreendedorismo. 

Ainda na adolescência, Zelma já demonstrava tendências para a área da beleza, pois gostava de fazer alguns “amarradinhos” e “birotinhos” no próprio cabelo. A trancista relata que conheceu o pai aos 15 anos, fato que foi decisivo para a sua carreira. Pois foi uma prima do pai que a iniciou na arte de trançar. 

Nossa entrevistada relembra que a prima não tinha muito tempo. Entretanto, nos finais de semana em que Zelma a visitava, as duas compartilhavam os afazeres domésticos, os cuidados com os irmãos menores e aproveitavam para treinar as tranças. 

Aos 17 anos, Zelma havia adquirido uma grande responsabilidade: cuidar do seu primeiro filho. Com isso, ela procurou emprego na Galeria do Rock, em São Paulo, onde foi admitida como trancista mediante o teste de seleção. Nesta época, a nossa protagonista ainda era inexperiente na área e só sabia o básico sobre trançar. Contudo, ao longo dos três anos que permaneceu na Galeria, Zelma adquiriu muita experiência, aprendeu técnicas e potencializou significativamente os seus conhecimentos. 

O início do empreendimento se deu à medida que Zelma teve seus demais filhos, ela viu na sua profissão uma oportunidade para conciliar o trabalho de trancista com o trabalho de ser mãe, e assim o fez, iniciando os atendimentos em sua própria casa. 

Zelma Tranças, uma forma de empreender na periferia
Atualmente, Zelma ministra cursos de tranças em Osasco, além de ser responsável por uma equipe de trancistas.
Foto: acervo pessoal Zelma.

Os frutos das tranças

Empreender é uma decisão cheia de desafios. O início é sempre a parte mais difícil, além da coragem e foco que precisam estar presentes na vida de quem sonha em ter o seu próprio negócio. Zelma evidencia isso ao contar a sua história, compartilhando as inúmeras vezes em que intercalou os atendimentos com a amamentação dos filhos bebês.

Apesar dos obstáculos, a trancista se manteve focada e, além de fazer as tranças, ela também passou a ensinar, descobrindo uma verdadeira paixão. “Eu amo ensinar, amo de verdade, faço muitos eventos nas comunidades. A gente faz tranças de graça em troca de divulgação, e nisso minha clientela vem daí. A gente trabalha muito com eventos, fui em muitos lugares, principalmente Rio de Janeiro e Guarujá, acompanhando muitos eventos onde ele nos levava para fazer as tranças. Muitas vezes a gente não ganhava nada, custeando só a condução e alimentação. Mas como era uma coisa que a gente amava fazer, acabava que não doía,” conta calorosamente.

Com o esforço, vem a recompensa. Zelma relata que a sua principal fonte de renda vem da sua atuação profissional como trancista: “são mais de 30 anos de profissão, de onde eu tiro o sustento da minha família, o aluguel do meu salão, o aluguel da minha casa, literalmente do meu trabalho”, afirma.

Empreender é sobre fazer o que você ama

Para a tracista de Osasco, o principal motivador é o amor que sente pela sua profissão: “Quando olho para trás e vejo um monte de profissional que eu ensinei é muito satisfatório, é isso! Minha vida é fundada nas tranças!”, declara ela.

“Minha especialidade envolve pegar uma pessoa com o cabelo todo danificado, com calvície, um pouco careca em algumas partes e fazer a transformação; eu gosto de ver acontecer, ver o brilho no olhar daquela pessoa”, completa Zelma.

Atualmente, a empreendedora tem um salão no Centro de Osasco, no Calçadão, e conta orgulhosa que está deixando seu próprio legado, pois o filho mais velho, hoje com 37 anos, também é trancista, e as duas netas mais velhas de 12 e 14 anos já seguem a profissão do pai e da avó. 

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“Minha vida é fundada nas tranças”, afirma Zelma.
Foto: acervo pessoal Zelma.

A jornada inspiradora de nossa entrevistada demonstra o poder transformador do empreendedorismo nas periferias. Vale ressaltar que, além de trançar, Zelma ensina essa arte, formando novas gerações de trancistas que também poderão empreender, seguindo seus passos. 

Jornal Aborda

2 Comments

  • Materia top, parabenssss

    • Obrigada, Noellen! Ficamos muito felizes que tenha gostado, foi incrível descobrir a força que uma empreendedora da periferia tem.

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