Setembro Amarelo: a importância de falar sobre saúde mental nas periferias

Em um cenário de desigualdade social e abandono dos serviços públicos, iniciativas como o Projeto Base levam acolhimento psicológico e informação às comunidades periféricas de Osasco
Por Mirella Pontes
Na última segunda-feira (01), iniciamos o mês de setembro e como é amplamente reconhecido, este mês é marcado por uma campanha fundamental que vem ganhando cada vez mais visibilidade nos últimos anos: o Setembro Amarelo.
No Brasil, a campanha foi oficialmente adotada em 2014 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Seu principal objetivo é prevenir o suicídio, promover a conscientização sobre saúde mental e combater os estigmas que ainda cercam esse tema.
Embora o suicídio seja a principal pauta da campanha, o Setembro Amarelo também promove debates sobre saúde emocional, qualidade de vida, acolhimento psicológico e acesso a serviços de saúde mental.
Um problema urgente e silencioso
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo, sendo essa a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que aproximadamente 14 mil pessoas tiram a própria vida anualmente, o que representa uma média de 38 mortes por dia.
Além disso, a OMS aponta que uma em cada quatro pessoas será afetada por um transtorno mental ao longo da vida. Ainda assim, o acesso ao cuidado psicológico no país está longe de ser universal — especialmente nas periferias.
A realidade nas periferias de São Paulo
Nas periferias, a saúde mental ainda é invisibilizada e de difícil acesso. Os altos custos das consultas com psicólogos e psiquiatras na rede privada, somados à alta demanda e demora no atendimento pelo SUS, tornam o acompanhamento contínuo praticamente inviável para grande parte da população.
Por sua vez, os desafios da saúde mental estão diretamente conectados às questões sociais e estruturais: insegurança alimentar, desemprego, violência urbana, falta de moradia digna e outras situações de vulnerabilidade contribuem para o adoecimento psicológico, mas raramente são tratados com a seriedade e urgência necessárias.
Falar sobre saúde mental nessas regiões ainda é considerado um tabu, e muitas vezes o sofrimento é silenciado por medo, vergonha ou falta de informação.
Projeto Base: uma resposta nas bordas
É nesse contexto que ações como o Projeto Base ganham relevância e urgência. O projeto atua diretamente nas periferias de Osasco e surgiu com o propósito de democratizar o acesso à saúde mental. Formado por profissionais voluntários, oferece atendimento psicológico gratuito e ações comunitárias de escuta, acolhimento e orientação, criando um espaço de cuidado em territórios onde o sofrimento mental é muitas vezes normalizado ou ignorado.
Durante este mês de setembro, o Jornal Aborda, por meio da editoria de saúde, publicará uma série de três reportagens sobre o Projeto Base, abordando sua criação e como ele atua nas periferias de Osasco. Ouviremos os profissionais que fazem parte do projeto e atendem de forma voluntária e traremos informações sobre como ter acesso a esse atendimento e como ajudar o projeto.