Sérgio Vaz: um poeta da quebrada para todas as quebradas

 Sérgio Vaz: um poeta da quebrada para todas as quebradas

Por Fernanda Matos

“Poesia, para mim, é quando ela desce do pedestal e beija os pés da comunidade”. A frase é de Sérgio Vaz, 61 anos, poeta, agitador cultural e criador da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), em Taboão da Serra. Mineiro de nascimento e paulistano de criação, Vaz transformou um simples bar de bairro em um dos maiores palcos literários do Brasil, onde, em vez de elites literárias, quem tem voz são jovens, trabalhadores e donas de casa das quebradas.

Sua obra e atuação atravessam fronteiras. Ele já lançou livros como Colecionador de Pedras e Flores da Batalha, e ganhou reconhecimento internacional. Mas continua reafirmando: “Sou poeta da periferia”. É nesse compromisso com a palavra de chão, acessível, que Sérgio Vaz se conecta à realidade de lugares como Osasco, onde a cultura periférica pulsa em saraus, slams e movimentos culturais comunitários.

A periferia como território de arte e resistência

Para Vaz, poesia não é apenas literatura: é arma de transformação social. Por isso, idealizou projetos como a Semana de Arte Moderna da Periferia, a Chuva de Livros (balões com versos soltos pelo céu) e o Ajoelhaço (ato simbólico contra a violência doméstica).

Essas iniciativas nasceram da convicção de que a periferia tem seus próprios intelectuais, artistas e criadores. “Na periferia nunca se leu tanto quanto hoje”, afirma o poeta. Essa constatação ecoa também em Osasco, cidade onde saraus em escolas, bibliotecas comunitárias e coletivos culturais ganham força — muitas vezes sem apoio oficial, mas sustentados pela paixão de quem acredita na arte como saída e horizonte.

Conexões com Osasco

Se Sérgio Vaz tivesse nascido em Osasco, sua história não seria muito diferente: cidade marcada por contrastes, pela luta da população periférica por visibilidade e pelo esforço de transformar praças, escolas e centros culturais em espaços de criação.

Em bairros como Jardim Conceição, Rochdale e Munhoz Jr., coletivos de jovens poetas já organizam slams, feiras e rodas culturais que poderiam facilmente dialogar com a filosofia da Cooperifa. O exemplo de Sérgio Vaz mostra que não é preciso esperar pelo centro: a periferia tem força e voz para produzir sua própria cena cultural, com identidade própria e orgulho.

A exposição que amplia o alcance

Em 2025, o Museu das Favelas, em São Paulo, inaugurou a mostra “Fluxo Poético – Sérgio Vaz: Poeta da Periferia”, com manuscritos, vídeos, fotos e instalações que contam sua trajetória. A exposição simboliza algo essencial: levar para dentro de um museu aquilo que nasceu do lado de fora, nas ruas e vielas.

Mas Vaz sempre faz questão de lembrar que seu verdadeiro “museu” é o sarau, onde a poesia acontece ao vivo e de graça, em contato direto com a comunidade. É um modelo que poderia inspirar ainda mais ações em Osasco: transformar bares, praças e escolas em espaços culturais de referência.

Por que Osasco precisa conhecer Sérgio Vaz

  • Porque sua poesia fala da realidade da periferia, com linguagem simples, direta e emocionante.
  • Porque mostra que a cultura não é privilégio do centro — ela floresce nas bordas.
  • Porque inspira jovens a escreverem suas próprias histórias, em vez de apenas consumirem narrativas de fora.
  • Porque conecta a cidade a uma rede maior de produção cultural periférica, que já transformou vidas em São Paulo, Taboão da Serra e tantas outras quebradas.

Versos que ecoam por aí 

Num de seus poemas mais conhecidos, Vaz escreve:

“O que eu quero para mim

é o que eu quero para todos.

Não quero ser feliz sozinho,

quero ser feliz com os outros.”

É nessa simplicidade que mora a força de sua poesia: um chamado coletivo. Para Osasco, conhecer Sérgio Vaz é também conhecer a si mesma — reconhecer a potência da periferia e transformar a cidade em palco vivo de arte e resistência.

Quem é Sérgio Vaz

  • Nascido em Ladainha (MG), em 1964.
  • Viveu em Taboão da Serra (SP).
  • Fundador da Cooperifa, movimento cultural periférico criado em 2001.
  • Obras: Colecionador de Pedras, Flores da Batalha, A poesia dos deuses inferiores, entre outras.
  • Projetos: Semana de Arte Moderna da Periferia, Chuva de Livros, Ajoelhaço.
  • Reconhecido internacionalmente, mas se define como “poeta da periferia”.

Fernanda Matos Oliveira

Redatora

2 Comments

  • I must say this article is extremely well written, insightful, and packed with valuable knowledge that shows the author’s deep expertise on the subject, and I truly appreciate the time and effort that has gone into creating such high-quality content because it is not only helpful but also inspiring for readers like me who are always looking for trustworthy resources online. Keep up the good work and write more. i am a follower.

  • […] Leia também: Sérgio Vaz: um poeta da quebrada para todas as quebradas […]

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *