Saúde da mulher e planejamento familiar

 Saúde da mulher e planejamento familiar

A saúde da mulher engloba um conjunto de condições ginecológicas, aspectos de saúde mental e de bem-estar próprios do corpo feminino. O acompanhamento médico ajuda a tratar doenças como a endometriose, ovários policísticos, dismenorreia e outras alterações hormonais que interferem na qualidade de vida, como por exemplo a TMP e a menopausa. Também ajuda a identificar doenças perigosas como o câncer. Outro tema bastante relevante é o planejamento familiar. Faz parte do empoderamento feminino, o direito de decidir se quer ou não ter filhos e a escolha do método conceptivo mais adequado a suas necessidades. 

A montanha russa dos hormônios

Graças ao ciclo reprodutivo, todos os meses o corpo da mulher sofre várias alterações hormonais. Os principais hormônio femininos são os estrógenos (que ajudam a regular o ciclo menstrual); a testosterona (que auxilia na regulação da libido e na obtenção de massa muscular) e a progesterona (responsável pela ovulação e pelo revestimento das paredes uterinas). Quando há uma disfunção, podem surgir miomas, nódulos, aumento de peso, quedas de cabelo, redução da massa óssea entre outros problemas.

Condições ginecológicas que as mulheres precisam conhecer

Tensão Pré-Menstrual (TPM): causa alterações de humor, retenção de líquidos, insônia, dores nos seios, cefaleia, dores nas mamas, prisão de ventre, gases, irritabilidade que interferem no rendimento profissional e na qualidade de vida. Algumas mulheres podem se sentir mais sensíveis, chorar com facilidade e ter dificuldade de concentração. Quem sofre de acne, ansiedade ou depressão, costuma sentir a piora dos sintomas. A TPM não tem cura, mas os sintomas podem ser amenizados com uma rotina de exercícios físicos, alimentação balanceada, redução do consumo de bebidas com cafeína e gaseificadas. Tratamentos alternativos como acupuntura e homeopatia também podem ajudar a controlar os sintomas e tem poucas contraindicações. Infelizmente a população de baixa renda tem dificuldade em obter estes serviços gratuitamente e o tratamento particular não é acessível.

Dismenorreia: causada pela produção desregulada de prostaglandinas. Isso pode acontecer devido a alguma malformação do útero, presenças de cistos ou de miomas ou outras doenças inflamatórias. As mulheres que sofrem de dismenorréia sentem cólicas insuportáveis no período menstrual, acompanhadas de dores de cabeça e nos seios, podendo ter vômitos e diarreia.  Estas mulheres sentem tanta dor que costumam procurar o atendimento ambulatorial. O mal-estar é tão intenso que impede de realizar atividades diárias como trabalhar ou estudar. Após diagnosticada, os médicos podem receitar anticoncepcionais e anti-inflamatórios, para aliviar as dores.

Endometriose: é uma condição crônica que faz com que as células que revestem o útero ao invés de serem excretadas após a menstruação, retornem para os ovários. Isto pode causar fortes cólicas, sangramentos intestinais, distensão abdominal e inflamação.  Se não tratado a mulher pode ter dificuldade em engravidar, além de correr o risco de ter problemas urinários. A endometriose é diagnosticada por exames de sangue e ultrassom, em casos mais sérios, o médico pode solicitar cirurgia.

Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP): o aumento excessivo dos níveis de testosterona causa o surgimento de bolsas de líquido ou de gases, que desregulam o ciclo menstrual, alteram o fluxo, causam acne e causa dificuldade de engravidar. O diagnóstico é feito através do ultrassom transvaginal. Quando o cisto é pequeno, o médico pode receitar anticoncepcionais para ajudar a desfazer o nódulo. Em casos mais sérios, quando o cisto ultrapassa 10 cm, pode ser necessário extraí-lo através de cirurgia.

Menopausa: ocorre naturalmente por volta dos 45 aos 55 anos. É ocasionada pela redução do nível de estrógeno, sinalizando o término do período reprodutivo e o fim da menstruação. As mulheres nessa fase costumam sentir ondas de calor (fogacho), irritabilidade, redução do desejo sexual, redução da lubrificação vaginal que pode causar dores e desconforto durante as relações sexuais. Em alguns casos, o médico pode receitar a reposição hormonal para reduzir os sintomas e evitar doenças cardiovasculares.

Câncer de colo do útero: causado pelo vírus Papilomavírus Humano (HPV), que pode causar a alteração das células que evoluem e se tornam câncer de colo do útero. Os sintomas são sangramento anormal, dor nas relações sexuais e alteração no fluxo menstrual. Quando detectado rapidamente tem mais chances de ser tratado.

Câncer de mama: as células da mana sofrem alterações dando origem a tumores malignos. Os sintomas são nódulos nas mamas ou axilas, retração do mamilo, secreção nos mamilos, pele do seio com aspecto de casca de laranja.

A importância de fazer os exames ginecológicos preventivos

Para garantir o bem-estar e saúde do aparelho reprodutivo é importante realizar exames anuais. Por meio deles é possível detectar, anomalias, infecções, DSTs e câncer de colo de útero e de mama nos primeiros estágios, quando o tratamento é mais eficaz.

Os exames preventivos variam de acordo com a faixa etária. Antes da primeira menstruação é indicado que a jovem procure um ginecologista, acompanhada da mãe ou de um responsável, para receber orientações sobre o ciclo menstrual e as vacinas. Após o início da vida sexual, a mulher deve realizar exames como: ultrassom pélvico e das mamas, colposcopia, exames de sangue e o Papanicolau. Após os 40 anos devem fazer também a mamografia.

Quando os exames salvam vidas

Rita-Saude-da-Mulher Saúde da mulher e planejamento familiar

Rita de Cassia R. M. de Souza, 51 anos, freelancer, moradora de Osasco, conta que no início de 2012 sentiu uma forte dor na mama direita, principalmente na região do mamilo. Para investigar as causas do desconforto, marcou uma consulta com uma ginecologista pelo convênio médico do seu marido.

A médica a examinou superficialmente e foi incapaz de oferecer um atendimento humanizado. Além de desconsiderar as suas queixas, descartou a necessidade de exames adicionais. Quando questionada pela paciente, a profissional de saúde, minimizou as suas preocupações e pediu que ela retornasse depois de seis meses para reavaliar seu caso.

Inconformada com o atendimento inadequado, decidiu ir atrás de uma segunda opinião médica. Esta decisão salvou a sua vida. No segundo atendimento, a médica solicitou outros exames, entre eles uma mamografia. Os resultados apontaram um carcinoma ductal invasivo. Após avaliar os exames, ela foi diagnosticada com câncer ductila tipo 5. Um câncer que se origina nos ductos mamários e se estende até os mamilos, evoluindo para o estágio mais difícil de tratar. Por isso, foi indicado uma mastectomia com urgência, que é a retirada cirúrgica de toda a mama.

Para agravar a situação, fazia um mês que ela havia se desligado do trabalho devido às dores que sentia. A empresa, onde trabalhou por mais de seis anos, não facilitou as negociações e ela se viu obrigada a pedir demissão para cuidar da saúde.

Além da tensão causada pela cirurgia iminente e o impacto psicológico de perder uma das mamas, ela ainda teve que lidar com mais uma descoberta desagradável. O convênio informou que o plano de saúde não cobria o protocolo CROSS, que inclui quimioterapia e a radioterapia, procedimentos indispensáveis para combater o seu tipo de câncer.

Após receber um resultado tão amedrontador e com a renda reduzida, Rita precisou se manter firme e positiva para não desistir frente às adversidades. Deu entrada no auxílio-doença pelo governo que oferece subsídio 10 por meses. Todavia, alguns tipos de câncer podem demorar muito mais tempo para serem curados.

Desempregada e preocupada com a demora de atendimento pelo SUS, decidiu pagar uma consulta particular com uma mastologista. Por sorte, a médica trabalhava no setor de filantropia do Hospital Sírio Libanês e deu o encaminhamento necessário para que ela fizesse o tratamento gratuito por lá. A cirurgia correu bem e ela recebeu uma prótese. Depois, foram necessárias outras quatro cirurgias para erradicar completamente a doença. A equipe médica foi competente e atenciosa em todos os atendimentos.

Ela também conseguiu as medicações sem custo na farmácia do Hospital do Câncer.  O processo foi rápido e tranquilo, contando também com um serviço de entrega em domicílio.

A partir daí, iniciou um longo processo que durou mais de cinco anos. Foram 16 sessões de quimioterapia que somavam quase 8h por semana, além de outras 33 sessões de radioterapia, todas realizadas gratuitamente no Hospital das Clínicas. A medicação era muito forte, causando vômitos, fraqueza e mal-estar. Ela conta que demorava quase dois dias para se recuperar totalmente dos efeitos colaterais, mas com coragem e força conseguiu vencer a doença.

Rita acredita que os exames preventivos são essenciais no combate ao câncer. Entretanto, ainda há muita demora no atendimento público. Mesmo com as campanhas de prevenção desenvolvidas pelo governo, como Outubro Rosa, ainda há muito o que ser feito. Quem tem câncer tem urgência. Relata que mais de uma vez procurou o posto de saúde e foi informada que a agenda já estava fechada e foi obrigada a procurar um laboratório particular.

Por fim, ela deixa um conselho importante a todas as mulheres, que façam o autoexame e não ignorem os sintomas. Existem maus profissionais em todas as profissões, se desconfiar que tem algo de errado, não demore em procurar uma segunda opinião. Isto pode salvar a sua vida.

Além disso, é muito importante não se deixar abater pela doença. Apesar de curada, ela ainda exibe em seu perfil a foto que tirou quando estava em tratamento. Vaidosa, se manteve bonita e bem cuidada nesse período. Conta que durante o processo, perdeu outras quatro amigas vítimas do câncer, e se sente uma vitoriosa por ter conseguido superar essa batalha.

 Planejamento familiar e gravidez na adolescência

A Lei nº 9.263/2022, garante a assistência à concepção e contracepção, atendimento pré-natal, assistência médica ao parto, puerpério e neonatal, controle de doenças sexualmente transmissíveis e tratamento de cânceres, além de educação preventiva.

Ao falar sobre planejamento familiar, devemos lembrar que cabe à mulher decidir se quer ou não ser mãe. Optar por não ter filhos, não quer dizer que a pessoa não goste de criança, ela apenas está exercendo a liberdade de escolher como quer constituir a sua família. A maternidade não deve ser uma obrigação feminina, mas sim, um direito da mulher.

Outra vantagem de fazer um planejamento, é poder equilibrar as condições financeiras do casal ao ciclo reprodutivo da mulher. Muitas mulheres priorizam o trabalho e a carreira, e retardam demais o nascimento dos filhos. Estudos médicos mostram que após os 35 anos, há mais riscos de complicações gestacionais, partos prematuros, diabetes gestacional, hipertensão e recorrência de síndromes cromossômicas como por exemplo, a Síndrome de Down.

Isso não quer dizer que muitas mulheres acima desta idade não podem ter uma gestação saudável, mas é preciso estar ciente dos riscos. Para evitar complicações, converse com o seu médico ginecologista, ele poderá avaliar a sua saúde e ajudar a escolher o melhor momento.

Outro problema relatado por muitos casais é a resistência dos centros médicos em realizar cirurgias de esterilização, como por exemplo, a vasectomia (para homens) e a laqueadura (para as mulheres). De acordo com o site do Ministério da Saúde, a Lei nº 14.443/2022 garante o direito a esterilização voluntária para homens e mulheres maiores de 21 anos, independentemente do número de filhos vivos, desde que aguardem o prazo de 60 dias entre a manifestação de vontade e o ato cirúrgico. Todavia, especialistas recomendam cautela e orientam a ter pelo menos dois filhos vivos antes de tomar esta decisão. Muitas pessoas se casam novamente e acabam se arrependendo da decisão.

O SUS oferece diversos métodos anticonceptivos gratuitos como por exemplo: o anticoncepcional injetável mensal ou trimestral; pílula anticoncepcional diária e a pílula do dia seguinte; preservativo feminino e masculino; diafragma e o DIU. Contudo, o preservativo ainda é o melhor método para proteger contra as doenças sexualmente transmissíveis e o mais indicado para quem não tem um parceiro fixo

Uma consulta ao ginecologista pode ajudar o método ideal. Algumas mulheres têm problemas dermatológicos como a acne adulta ou predisposição a doenças vasculares que pioram com uso de alguns tipos de anticoncepcionais orais, outras podem apresentar alergia ao látex da camisinha. Mulheres com parceiros fixos, podem preferir utilizar o DIU que evita a necessidade de uso de pílulas ou injeções regulares. Em casos emergenciais, como por exemplo, quando se esquece de tomar a medicação, ainda é possível utilizar a pílula do dia seguinte.

Todas estas medidas visam a reduzir os riscos de uma gravidez indesejada que dificulta a formação de vínculo afetivo com o bebê. A gravidez na adolescência, por exemplo, traz desafios psicológicos, econômicos e sociais. A falta de estrutura familiar causa conflitos constantes, aumentando o risco de doenças mentais como ansiedade e depressão. Mães muito jovens, podem se sentir inseguras e perdidas. Também pode interferir na vida escolar. Jovens de baixa renda se veem obrigados a abandonar os estudos para sustentar os filhos. A baixa escolaridade cria um ciclo vicioso que perpetua a pobreza.

Em outras palavras, toda mulher tem o direito de realizar o seu planejamento familiar. Isso garante uma vida sexual saudável, evita surpresas inesperadas e permite aproveitar ao máximo a maternidade.

Jornal Aborda

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