Imagem Destaque: Design feito por aluno, enviado pela escola Prof. Josué Benedict Mendes.
O racismo, apesar de séculos de evolução sistêmica, ainda persiste em nossa sociedade contemporânea. No Brasil, onde a estrutura histórica foi fortemente influenciada pela escravidão, enfrenta desafios incansáveis que precisam de uma desconstrução mais eficaz.
No cenário educacional, que desempenha um papel vital na formação da sociedade, observamos a problemática: o racismo estrutural. Pessoas negras periféricas precisam mais da validação para altos cargos, sendo muitas vezes associadas, e até direcionadas no ambiente educacional para os trabalhos de copeiras, cozinheiras e faxineiras. Por mais que essas profissões sejam importantes, é essencial garantir que a inclusão esteja presente em todas as funções. Romper com esses padrões exige o comprometimento de todos, e principalmente na educação, para construir uma sociedade mais justa.
Ao observarmos o ambiente educacional encontramos desafios correspondentes ao racismo estrutural e, com a finalidade de aprofundar nossa compreensão sobre os obstáculos locais, conversamos com alguns docentes de Osasco.
Construindo caminhos antirracista
Conversamos com Vânia Cândida, 56 anos, diretora escolar em Prof. Josué Benedict Mendes, situada no bairro Munhoz Júnior em Osasco, que compartilha suas perspectivas sobre o racismo estrutural. Para Vânia, “existe racismo estrutural dentro do ambiente escolar e talvez seja um dos ambientes que ele mais exista”. Em nossa conversa, Vânia mostrou ser uma mulher representativa em sua escola e que busca ter um ambiente de gestão inclusivo.
Perguntamos: qual a iniciativa a escola tem para ter um ambiente mais inclusivo os alunos?
“Essencialmente, trabalhamos a formação dos professores, a partir disso conseguimos abordar o projeto de vida dos alunos. Nessas formações, um dos nossos parceiros, visa justamente a questão da formação de valores na escola. Assim, os professores realizam suas aulas de projeto e vida com palestras sobre a diversidade, empreendedorismo negro, rodas de conversa. Enfim, trabalhamos de modo que nossos alunos percebam que não é só uma questão de você não ser racista, mas essencialmente ser antirracista”, disse Vânia.
Além disso, analisamos a trajetória de Vânia como diretora e defensora ativa na luta contra o racismo na educação. Procuramos compreender acontecimentos em seu dia a dia profissional e os desafios que a cercam. Para ela, o que persiste é a necessidade de precisar se apresentar repetidamente como diretora para os outros, e ter que constantemente validar sua inteligência apenas pela sua cor de pele.
“Meu maior desafio é mostrar para os alunos e professores negros da periferia que é possível sonhar e conquistar através da educação”, afirmou Vânia.
Um futuro de esperança na educação
Daniel de Souza, Professor de História e atual Coordenador Pedagógico da escola Prof. Josué Benedict Mendes, compartilhou sua perspectiva sobre o racismo estrutural. Enquanto reconhece a diversidade em sua instituição, fruto dos esforços de uma administração inclusiva, Daniel destaca um fator preocupante: a falta de representatividade negra em cargos educacionais de destaque em relação a outras instituições de ensino.
Quando se refere aos alunos, Daniel expressa: “O que sinto em relação ao racismo estrutural são as amarras que cercam os nossos alunos. O primeiro ponto, em especial, é naquilo que dimensiona o quão fácil vão abrir mão de um sonho em troca de um trabalho. E isso, não é por eles não terem vontade, interesse ou a condição mental e psicológica de galgar postos para alcançar lugares diferentes na nossa sociedade, mas pelo simples fato de estarem presos ao sistema em um lugar para vender a força de trabalho enquanto jovens.”
Ele ressalta que a vivência nas periferias de Osasco traz um distanciamento significativo dos grandes centros, dificultando o acesso dos jovens a direitos sociais básicos proporcionados pela cidade.
Sobre a diferença de tratamento nas escolas particulares em que lecionou e as escolas estaduais das periferias. Ele enfatiza: “Como homem negro precisava provar o fato de eu estar ali.” Isso evidencia no modo como é percebida a presença de profissionais negros, afirmando a desigualdade existente.
Além disso, Daniel compartilhou histórias dos alunos, mencionou um incidente no qual uma aluna do primeiro ano do ensino médio, ao brincar na rua de pega pega com uma amiga branca, a jovem foi abordada por uma viatura que perguntou à amiga se estava sendo importunada pela colega. Essa história mostram como é importante mudar essas situações enraizadas para alcançar uma verdadeira igualdade e justiça social.
Educação para crescer e como projeto de vida
Juliana Terezinha, 51 anos, Professora de Matemática envolvida com TI e Robótica em outra instituição de ensino estadual de Osasco, diferente dos demais entrevistados. Para ela, o racismo estrutural é visível na educação, e como professora concursada experimentou a sensação de não ser plenamente aceita no ambiente de ensino. “Já me deparei com aquele susto. ‘Nossa, é você que veio! Por que você?’ Com aquele tom de devolução, com aquele tom de questionamento”, compartilha Juliana.
Quando se trata dos questionamentos nos concursos públicos, Juliana destaca uma cláusula não explícita nos formulários: a “aceitação”, que nas escolas privadas pode ser mais severa, pois têm o direito de reprovar o candidato à vaga. Mesmo após passar pelos méritos dos concursos, há momentos em que ela sente um certo desprezo e deseja não estar ali. A opção muitas vezes se resume a pedir transferência ou solicitar exoneração. Além disso, a questão da “aceitação” também é evidente por alguns alunos, especialmente quando é seu primeiro dia de aula, uma vez que, na maioria das vezes, vem de casa que o negro não está em uma posição para ensinar. Juliana faz uma reflexão: “Como mudar um critério que já foi estabelecido pela minha própria família?”
Como defensora da transformação da realidade dos alunos, ela inicialmente optou por doar os itens a eles. Mas, percebeu a presença de uma cultura assistencialista, algo que não queria perpetuar. Aos poucos modificou sua abordagem reconhecendo que, embora exista situações que as pessoas precisam de ajuda, muitas vezes podem superar os desafios em alguns momentos da vida. Passou a mostrar aos alunos que, embora possam precisar de ajuda agora, têm o poder de mudar suas vidas no futuro. Introduziu discussões sobre essas mudanças, compartilhando a própria história.
Assim criou os projetos @ajudaeperiferia e @perifatech1, que ensinam habilidades em alta demanda, proporcionando aos alunos uma fonte de renda e reduzindo a necessidade de deixarem a escola para sobreviver. Ela expressa: “Fazer com que o aluno tenha coragem e levante a cabeça é difícil. Pois, ele está tão humilhado e subjugado que se acha um nada.” Essa, de fato, é uma missão diária dos professores. Quando questionada quais alunos são foco desse esforço, ela responde: “Principalmente aluno de periferia, que vem de uma família negra e pobre. Ele chega em você e fala que não tem nada ‘hoje vou chegar em casa não vai ter janta, vou comer na escola mesmo e volto amanhã e vai ser do mesmo jeito’” No entanto, ela reforça aos alunos a crença que amanhã será melhor.
De acordo com os desafios e histórias apresentadas pelos educadores de Osasco, surge a necessidade urgente de olhar para as periferias e construir novos caminhos antirracistas na educação. Suas iniciativas, reflexões e esforços são passos para uma sociedade mais igualitária, em que o aluno é encorajado a ter um futuro melhor.
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adorei!