Políticas de leitura em Osasco: um chamado à ação

 Políticas de leitura em Osasco: um chamado à ação

Estantes com livros da Biblioteca Monteiro Lobato em Osasco. Foto: Prefeitura Municipal de Osasco.

Matéria produzida por Thony Azevedo em coautoria com Fabiana de Franceschi, também redatora do Jornal Aborda.

Em um país onde aproximadamente um terço da população ainda é considerada analfabeta funcional, porém a importância da leitura como instrumento de transformação social nunca foi tão evidente. Em Osasco, cidade marcada por uma diversidade vibrante e uma realidade econômica desafiadora, as políticas de promoção da leitura assumem um papel crucial. No entanto, os dados sobre a situação educacional e o acesso aos livros revelam um quadro preocupante, exigindo um chamado à ação urgente.

Um retrato desafiador

De acordo com levantamentos recentes, pouco mais da metade das escolas em Osasco possuem bibliotecas ou salas de leitura. Esse número cai para cerca de 40% nas escolas municipais e pouco mais de 46% nas escolas privadas. Em contrapartida, a Política Nacional de Leitura e Escrita (PNLE), instituída pela Lei nº 13.696/2018, enfatiza a importância do acesso universal ao livro, à leitura e às bibliotecas como direitos fundamentais para o pleno exercício da cidadania.

Desafios e oportunidades

A PNLE estabelece diretrizes claras para promover a leitura e a escrita como elementos essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. No entanto, esses objetivos esbarram em obstáculos significativos, especialmente nas periferias, onde o acesso a espaços de leitura muitas vezes é limitado. Osasco, refletindo uma realidade nacional, enfrenta o desafio de democratizar o acesso ao livro e às bibliotecas, enquanto fomenta a valorização da leitura e o fortalecimento do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas.

Um chamado à ação

Diante desse cenário, é fundamental que cada cidadão assuma um papel ativo na promoção da leitura em sua comunidade. As bibliotecas públicas, espaços preciosos de conhecimento e cultura, devem ser encaradas não apenas como depósitos de livros, mas como centros de aprendizado e transformação. Convidamos você, morador da periferia de Osasco, a se engajar nesse movimento!

Para discutir a importância da leitura na educação e seu impacto no desenvolvimento cognitivo, emocional e social dos leitores, nós entrevistamos Fabiana Amorim Assis, 46 anos, moradora do Jardim Umuarama. Atualmente, ela atua como assessora pedagógica na Escola Municipal Olavo Spinola, da zona sul de Osasco, além das creches Recanto Alegre e Maria José de Jesus.

Como mediadora de conflitos entre pais e filhos da rede escolar, Fabiana conhece profundamente a realidade e as dificuldades socioeconômicas enfrentadas pelas crianças e adolescentes estudantes das creches e escolas públicas de Osasco. Segue abaixo a entrevista:

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Jornal Aborda:

Qual a importância do hábito da leitura na vida de crianças e adolescentes?

Fabiana:

Desde cedo, a exposição a livros e histórias ajuda a expandir horizontes, estimular a imaginação e promover o aprendizado. Ao frequentar uma biblioteca é possível viajar pelo mundo sem sair do lugar. E, ao explorar novos mundos, a criança amplia seu vocabulário, seu pensamento crítico e empatia. Mas a leitura é importante na vida de toda e qualquer pessoa. O adulto ganha capacidade para pleitear seus direitos e reivindicações, além de entender o impacto do cumprimento dos seus deveres e obrigações perante a sociedade. A pessoa aprende a ser cidadã da melhor forma possível, ampliando seus conhecimentos através da sua capacidade intelectual.

Jornal Aborda:

Qual o papel que a biblioteca exerce na vida das pessoas?

Fabiana:

A biblioteca é um espaço democrático, onde o usuário encontra silêncio. Pode ser frequentada por crianças e adultos de diferentes idades. Mas, para crianças de baixa renda, que dormem, comem, assistem TV e brincam no mesmo lugar, a biblioteca torna-se um espaço fundamental para seu aprendizado e sua evolução. É imprescindível ter um local diferenciado para os estudos, sem interferência de nada a não ser o foco na leitura.

Antes da reforma, iniciada em 2019, o prédio ao lado da Biblioteca Monteiro Lobato funcionava a Escola de Arte. Assim, além de oferecer atividades como saraus e clubes de leitura, a biblioteca, juntamente com a Escola de Arte, eram pontos de encontro que estimulavam a vida social, proporcionando inúmeras interações. Por isso, aguardamos ansiosamente pela reforma da Biblioteca Central do município. Esperamos que num futuro próximo a Monteiro Lobato esteja toda sistematizada, disponha de mais livros em seu acervo e ofereça novas instalações com mais infraestrutura e conforto aos seus visitantes e usuários.

Jornal Aborda:

Qual o impacto da reforma da Biblioteca Monteiro Lobato para o morador de Osasco?

Fabiana:

A Biblioteca Monteiro Lobato é um ícone de Osasco, fundada há 54 anos. Se hoje Osasco completa 62 anos de emancipação como município, isto significa dizer que a biblioteca é um marco na história da cidade, um local que precisamos preservar e valorizar com muito orgulho. Devido à demora na entrega das obras, usuários da biblioteca fizeram até um abaixo-assinado exigindo maior agilidade. Nessa ocasião, foram catalogados os 70 mil livros existentes no acervo da Biblioteca Monteiro Lobato. Esperamos que mais exemplares estejam à disposição do público e, objetivando que a visita à biblioteca faça parte do currículo escolar, aguardamos firmar parcerias com as escolas da rede pública. O impacto da biblioteca reformada será imenso. Uma vez em funcionamento, 150 escolas públicas de Osasco se beneficiarão, dando andamento a seus projetos de leitura.

Jornal Aborda:

Como pais e mães de alunos reagem diante do gosto pela leitura adquirido pelas crianças?

Fabiana:

É sempre com muito orgulho, na maioria das vezes. Após anos na educação, entendi a importância da abordagem sistêmica para garantir a paz de espírito das crianças. Com o projeto “Escola, no Olhar Quem Cuida”, em parceria com a Secretaria de Cultura de Osasco, buscamos capacitar cuidadores para autonomia financeira. Após o sucesso, expandimos o foco para a saúde mental das mulheres, especialmente as vítimas de violência doméstica, em parceria com o Projeto Base, atendendo 2.500 pessoas no ano passado.

Jornal Aborda:

Já que você abordou um tema importante relativo à saúde mental das mulheres, como é possível se beneficiar do programa?

Fabiana:

Isso é fácil, basta me ligar pelo número (11) 98490-8424 que acolhemos todas as mulheres em situação de vulnerabilidade, especialmente aquelas vítimas de violência doméstica.

Jornal Aborda:

Obrigada, Fabiana e parabéns pela iniciativa! Voltando ao tema da nossa entrevista, esclareça aos leitores, por favor, como os educadores podem promover o amor pela leitura entre os alunos?

Fabiana:

Estimulando sua curiosidade. No último trabalho que desenvolvi com as crianças, trabalhei a musicalidade através da leitura do livro Alice no País das Maravilhas, um clássico de Lewis Carroll, publicado em 1865, mas que até hoje impacta todas elas. É um dos meus livros favoritos. Talvez com nosso próprio exemplo seja possível impactarmos mais crianças a gostarem de leitura.

Jornal Aborda:

Qual foi o impacto do hábito da leitura em sua vida?

Fabiana:

Comecei ainda adolescente a frequentar a biblioteca, pois não tinha dinheiro para comprar todos os livros exigidos pela escola. Na minha época, eram poucos os exemplares disponíveis, tínhamos que ser rápidos para solicitar o empréstimo e também rápidos na devolução, sob pena de multa. Como havia essa urgência, acabei entrando no ritmo e me tornei uma leitora voraz. Estava sempre na biblioteca à espera do próximo livro.

Jornal Aborda:

Diante das novas tecnologias, o que você acha que uma biblioteca pode oferecer?

Fabiana:

Claro que com os e-books o acesso à leitura se amplia, mas, na minha opinião, nada supera o livro físico. Como atualmente tenho me dedicado a ler mais livros didáticos e livros voltados a área da educação, não conseguiria me debruçar na leitura horas a fio diante de uma tela. Acho que a gente precisa enxergar o livro nas mãos como um presente e folhear suas páginas como se fosse um embrulho para abrir com calma e muito prazer.

Jornal Aborda:

Obrigado, Fabiana, por compartilhar suas perspectivas conosco. Suas palavras certamente irão inspirar muitos educadores a valorizarem ainda mais a importância da leitura na educação.

Fabiana:

Eu agradeço pela oportunidade. Espero que este diálogo ajude a destacar a relevância da leitura na formação das crianças e motive mais pessoas a investirem nesse hábito tão enriquecedor.

Faça a diferença e transforme realidades

Diante do exposto, não há como negar que, ao frequentar uma biblioteca, você não apenas amplia seu acesso ao conhecimento, como também contribui para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. As políticas de leitura em Osasco necessitam, além do apoio das autoridades locais e da sociedade civil, do engajamento ativo de cada indivíduo. Assim, vamos juntos transformar realidades por meio da leitura! É hora de agir. É hora de fazer a diferença. Juntos, podemos construir um futuro onde a leitura seja verdadeiramente acessível a todos, independentemente de sua origem ou condição socioeconômica.

Visite sua biblioteca local, participe ativamente de programas de incentivo à leitura e compartilhe livros com sua comunidade. Cada passo dado em direção à promoção da leitura é um passo dado em direção a um futuro mais brilhante e igualitário para todos. Vamos aproveitar o poder da leitura para inspirar mudanças positivas em nossas vidas e em nossa cidade.

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Jornal Aborda

1 Comment

  • É inaceitável que em pleno século XXI, um terço da população seja considerada analfabeta funcional. Isso evidencia uma falha grave em nosso sistema educacional. A leitura não é um luxo, mas sim um direito fundamental que deveria ser garantido a todos, independentemente de sua origem ou condição socioeconômica. Pena que isso, infelizmente, até por consequências históricas, fica em segundo plano no Brasil e principalmente quando se trata das periferias.

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