Pichação é a arte cultural da periferia

A pichação é uma arte que funciona como um instrumento de protesto da periferia, que, através de seus traços desconstruídos e de sua mensagem subliminar, busca estampar no cenário urbano a falta de visibilidade daqueles cidadãos relegados à margem da sociedade.
A pichação, como a conhecemos hoje, ganhou força no Brasil a partir dos anos 1980, principalmente em São Paulo, mas também em outras grandes cidades, como Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Sua raiz está ligada ao movimento hip-hop, muito presente na periferia, e sua atuação se tornou um dos elementos mais emblemáticos e polêmicos desse movimento.
Enquanto o grafite – outro elemento artístico periférico e semelhante à pichação – passou por uma aceitação maior pela sociedade em geral, a pichação continua, até hoje, sendo vista como um ato de vandalismo. Seus traços pouco convencionais e fora dos padrões estéticos estabelecidos fazem com que essa arte sofra preconceito tanto da sociedade de classe média e alta quanto das autoridades públicas.
A diferença entre Grafite e Pichação
Como dito no tópico acima, o caráter rebelde da pichação trouxe como consequência o preconceito e a marginalização dessa arte periférica. Já o grafite passou por um revisionismo nos últimos anos, tornando-se cada vez mais aceito na sociedade brasileira. Mas você conhece a principal diferença entre essas duas expressões artísticas?
O grafite é uma expressão artística que busca comunicar ideias, emoções ou críticas de forma mais elaborada e visualmente atraente. Seu propósito é, muitas vezes, embelezar espaços públicos e transmitir mensagens positivas ou reflexivas, sendo mais aceito como uma forma de arte e, em muitos casos, encomendado ou autorizado pelas autoridades públicas.
Já a pichação é caracterizada por letras alongadas, formas abstratas e símbolos que são difíceis de decifrar para quem não está familiarizado com essa linguagem.
A técnica é geralmente mais rápida e improvisada, já que os pichadores, na maioria das vezes, agem à noite e em locais de difícil acesso.
Entre as principais características da grafitagem estão a arte e a comunicação visual, as cores e os personagens envolvidos na cultura urbana, sendo geralmente aplicados em locais de fácil acesso. Diferentemente da pichação, que tem como objetivo alcançar locais “inalcançáveis”, como topos de prédios e muros gigantes.
A Pichação em São Paulo e a Cena de Osasco
Assim como em outras grandes cidades brasileiras, a pichação em São Paulo se destaca como uma das expressões mais contundentes da cultura periférica. Na capital paulista, os traços desconstruídos e as mensagens cifradas ocupam muros, viadutos e prédios, transformando o cenário urbano em um manifesto visual daqueles que são invisibilizados. Em Osasco, cidade da região metropolitana, essa arte ganha um significado ainda mais profundo, refletindo as contradições e os anseios de uma periferia pulsante.
Em Osasco, a pichação se torna uma extensão da identidade local. Jovens das quebradas utilizam a técnica para demarcar territórios e expressar suas insatisfações, criando uma linguagem única que só é compreendida por quem está inserido nesse contexto.
Apesar de ser criminalizada, a pichação em Osasco e em São Paulo resiste como uma forma de protesto e arte autêntica. Ela não apenas denuncia a falta de oportunidades e a exclusão social, mas também reafirma a existência de quem vive à margem. Em uma sociedade que muitas vezes ignora as demandas da periferia, a pichação se mantém como um grito de resistência, transformando a cidade em um espaço de diálogo e luta.
Criminalização, Rebeldia e a Luta por Visibilidade Periférica
Na verdade, a pichação é criminalizada em todo Brasil, mas existe um debate importante que precisa ser tratado e levado a sério sobre os preconceitos que cercam essa expressão cultural.
Os periféricos, aqueles deixados de lado nas grandes discussões e muitas vezes censurados em suas características culturais, não encontram meios “legais”, objetivos e eficientes para expressar sua revolta. Desse modo, ações de rebeldia, como a pichação, tornam-se cada vez mais imprescindíveis.
São movimentos como esse que conseguem, de certa forma, incomodar as autoridades e forçá-las, ainda que minimamente, a olhar para as denúncias e os anseios da sociedade marginalizada.
Portanto, a pichação é um movimento autêntico, indispensável e fundamental na luta pela igualdade, além de ser uma arte urbana que deve ser aceita como parte da cultura de um povo.