ONG atua às margens da represa Billings e busca participação na elaboração de políticas públicas para a região
Por: Esther Soares
Data: 04/07/2024
Faltando três meses para as eleições municipais, que definirão novos prefeitos e vereadores em todo o Brasil, este é o momento oportuno para os moradores das margens da represa Billings questionarem os planos de governo dos candidatos. Analisar essas propostas é fundamental para entender quais são as soluções traçadas para atender às necessidades das comunidades afetadas, bem como perceber quais pautas da sociedade civil estão nas prioridades do setor público. Mas além de exigir soluções da agenda dos políticos, as próprias comunidades, junto com organizações não governamentais (ONGs), podem e devem ser ativas na política para se representar e buscar mudanças significativas.
Provando que existem muitas formas de participação política, as organizações comunitárias e não governamentais atuam ativamente em movimentos populares. Como o coletivo Oëkobr, que atua nas margens da represa Billings, com enfoque socioambiental, e se empenha em participar de ações que promovam uma melhor qualidade de vida para a população da Zona Sul de São Paulo.
O Jornal Aborda, movido pelo compromisso com a mudança social pela via política e promoção de políticas públicas nas regiões periféricas, entrevistou o ativista do meio ambiente Wesley Silvestre, colaborador da ONG Oëkobr desde 2017.
Periferia em pauta
Localizada na região sul da Grande São Paulo, a represa Billings foi inaugurada em 1925 para geração de energia e posteriormente foi utilizada para o abastecimento de água na região metropolitana, e é o maior reservatório urbano do mundo. No entanto, atualmente, já não desempenha sua função original. Hoje, aproximadamente um milhão de pessoas residem em suas margens, abrangendo a Zona Sul de São Paulo e os municípios do ABC Paulista.
No momento, a Billings está altamente comprometida pela poluição, especialmente devido às grandes quantidades de esgotos domésticos despejados em sua extensão. Mas a realidade da região não foi sempre assim: a represa ficou praticamente intacta até o final da década de 1950, quando as indústrias automobilísticas começaram a se instalar na chamada região do ABCD Paulista.
O forte crescimento populacional criou uma demanda por habitações populares, resultando na transformação de grandes áreas de mata nas margens da Billings em loteamentos, muitos deles irregulares. Em poucos anos, essas áreas se transformaram em um imenso conglomerado urbano.
Além das vulnerabilidades ambientais escancaradas pela contaminação da água, o ajuntamento urbano em volta da represa também reflete novas preocupações. Metade dos domicílios em favelas da capital estão distribuídos em dez distritos, sendo oito deles na zona sul. Por exemplo, o distrito de Grajaú e o município de Pedreira, cortados pela represa, possuem 15% dos seus domicílios em favelas, enquanto na Cidade Ademar esse número chega a 22%.
Sobre os problemas enfrentados pelas comunidades periféricas na região das margens da Represa Billings, Silvestre afirma: “A região foi ocupada e não houve a devida preservação ambiental, pois sua urbanização não foi planejada. Assim, ocorreu de forma desordenada, de maneira que a população tornou-se isolada dos centros comerciais, espaços culturais, unidades básicas de saúde, áreas de lazer e escolas”.
Além disso, Silvestre destaca que a população enfrenta diariamente dificuldades com a oferta de transporte público, problemas logísticos e a lentidão dos deslocamentos, tanto dentro dos bairros da capital quanto para outras regiões.
A falta de estratégias políticas que considerem todas as realidades da periferia — não apenas as necessidades básicas de sobrevivência, mas também a garantia de qualidade de vida — leva diversas iniciativas a buscar políticas públicas mais eficazes e abrangentes. Silvestre enfatiza que a escassez de recursos públicos destinados ao atendimento dessas necessidades básicas é um agravante.
“Além de problemas com os resíduos líquidos e sólidos descartados de forma irregular nos corpos de água e no solo da região, percebemos a ausência de serviços básicos como coleta de lixo e coleta e tratamento de esgoto, o que causa inúmeros inconvenientes e agravos à saúde da população”, afirma.
ONGs em ação
No contexto brasileiro, as Organizações Não Governamentais (ONGs) desempenham um papel essencial na promoção de mudanças sociais e na construção de um futuro mais justo e igualitário. Atuando em diversas frentes, desde direitos humanos à preservação ambiental, essas organizações são pilares fundamentais da sociedade civil, preenchendo lacunas deixadas pelo governo e pelo setor privado.
A Oëkobr atua na região sul do município de São Paulo desde 2014. Formada por membros do Coletivo Parque dos Búfalos, a organização mobiliza ações em diversas frentes, como cultura, educação, meio ambiente, saúde e habitação. A ONG alcança as regiões do Eldorado, Pedreira e Cidade Ademar, reivindicando atenção para as periferias e exigindo equidade através da efetivação das políticas públicas.
Através de projetos, cursos, debates, palestras, reuniões em comitês e participação nos conselhos municipais e estaduais, essa organização capacita indivíduos e comunidades marginalizadas, proporcionando-lhes as habilidades e recursos necessários para construir um futuro mais promissor para sua comunidade.
Para combater alguns dos problemas identificados na região, membros e voluntários da organização têm participado de ações que incluem cuidado e manutenção do Parque dos Búfalos, como limpeza de trilhas, podas de árvores, plantação de mudas e combate a princípios de incêndio. Além disso, fornecem suporte alimentar com a distribuição de cestas básicas e implementação de projetos de educação ambiental nas escolas da região.
As ONGs frequentemente atuam como mediadoras entre o governo e as comunidades locais, assegurando que as vozes e necessidades das pessoas sejam não apenas ouvidas, mas também atendidas em forma de políticas públicas.
Silvestre ressalta que o papel das ONGs é fundamental para suprir demandas básicas, sociais e ambientais que muitas vezes não são alcançadas pela gestão pública.
Enquanto o setor precisa avançar para atender adequadamente às necessidades das periferias da Zona Sul de São Paulo, as ONGs estão demonstrando que a participação ativa não é apenas possível, mas necessária. Com voz ativa, elas influenciam ações eficazes que atendem às necessidades e aspirações da comunidade.
Sobre o trabalho das ONGs em prol da população, Silvestre acrescenta: “Todas as ações contam com o envolvimento massivo da comunidade local. A Oëkobr acredita que o engajamento da comunidade é essencial para promover mudanças e melhorias no território, buscando envolver órgãos públicos, terceiro setor e setor privado em debates sobre políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade de vida das pessoas”.
A ação coletiva entre ONGs e comunidade é essencial para garantir um futuro melhor. Ao cuidar do meio ambiente e fortalecer a cultura local, essas iniciativas não apenas transformam realidades imediatas, mas também pavimentam o caminho para uma cidade mais sustentável e inclusiva. Com o apoio mútuo e a participação ativa de todos os envolvidos, é possível construir uma sociedade mais justa e resiliente para as gerações futuras.