O preço do silêncio

 O preço do silêncio

Por Ellen Pedrosa

Falar sobre sentimentos nem sempre é fácil. Muitas vezes, pela correria do dia a dia ou pelo medo do julgamento, guardamos para nós dores, angústias e até mesmo alegrias que poderiam (e deveriam) ser compartilhadas. Mas esse silêncio, quando se prolonga, pode cobrar um preço alto: isolamento, adoecimento emocional e dificuldade em criar laços mais profundos.

No Brasil, os números relacionados à saúde mental já dão sinais de alerta. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o país é um dos que mais registram casos de ansiedade no mundo. O problema, no entanto, não está apenas nos diagnósticos clínicos: ele também nasce em pequenas situações cotidianas, quando não existe espaço para simplesmente dizer como estamos nos sentindo.

Criar momentos de escuta pode ser uma forma simples, mas poderosa de prevenção. Muitas vezes, as pessoas não precisam de respostas prontas, mas de acolhimento. Quando alguém compartilha algo difícil e encontra silêncio do outro lado, a sensação é de invalidação. Já quando se encontra um ouvido atento, há alívio imediato, mesmo que os problemas continuem.

Experiências comunitárias mostram que falar pode ser um remédio coletivo. Em algumas igrejas, rodas de conversa já fazem parte da rotina dos fiéis, abrindo espaço para que todos possam expressar emoções sem medo de julgamento. Grupos de jovens em universidades e coletivos culturais também têm promovido encontros com o mesmo propósito: transformar vulnerabilidade em vínculo.

É importante, no entanto, destacar que rodas de conversa e espaços coletivos de escuta não substituem um acompanhamento profissional. Questões emocionais e de saúde mental merecem atenção especializada, e procurar apoio psicológico é um passo fundamental para lidar com sofrimentos que vão além do que o convívio social pode oferecer. Falar entre amigos ajuda, e é sim muito importante escutar o outro, mas não deve ser o único caminho.

Mais do que falar, criar espaços seguros e aprender a escutar. Afinal, o silêncio pode ser sufocante quando imposto, mas pode ser curativo quando nasce da escuta atenta. O desafio está em equilibrar esses dois lados e entender que, em sociedade, sentimentos não precisam, e não devem, ser vividos sozinhos.

Ana Carolina Bernardes

Apaixonada por linguagem e textos. Só a palavra pode nos levar aonde queremos chegar. Revisora freelancer e redatora do Jornal A Borda.

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