Na quebrada, a educação levanta autoestima e forma cidadão.

 Na quebrada, a educação levanta autoestima e forma cidadão.

Por Fernanda Matos

Carla, 17 anos, é do Jardim Santa Fé, em Osasco (SP).* Na escola do bairro, ela nunca teve acesso a uma biblioteca de verdade. Muitos colegas já largaram os estudos, mas tudo mudou quando ela conheceu o projeto Tijolinhos do Bem, uma biblioteca feita com caixas de leite recicladas no meio da quebrada. Lá, ela descobriu o prazer da leitura e começou a acreditar que também pode chegar longe.

Roseli, que criou o projeto, sonha alto: “Quero ver médico, engenheiro, advogado saindo daqui do bairro”, pois quando alguém acredita em você, fica mais fácil acreditar em si. A educação, quando chega com afeto e respeito, ajuda a gente a se sentir mais forte, mais capaz, mais dono do próprio caminho.

Os desafios são reais

Na periferia, a vida não é fácil. Faltam esgoto, asfalto, segurança, espaço cultural, e a escola, muitas vezes, não dá conta de tudo. Muitas pessoas acabam largando os estudos para trabalhar cedo. Segundo o IBGE, jovens pobres têm oito vezes mais chances de abandonar o ensino médio do que os ricos.

E o problema não é só aprender menos, é se sentir menos também. Sem escola, sem incentivo, sem ver ninguém parecido vencendo, questionam-se sobre a capacidade. Como já disse o rapper Criolo: “Na favela, é como se eu não fosse nada”. Frase impactante que representa o sentimento de muitos jovens.

Educação que acolhe, muda tudo

Em Osasco tem mais gente fazendo diferença. O Centro Social Carisma, por exemplo, atende crianças e adolescentes com oficinas de música, esporte, meio ambiente e reforço escolar. Já são mais de 40 mil pessoas impactadas. A ideia é mostrar para juventude que ela tem valor, que pode e deve sonhar.

Fora de Osasco, também tem exemplos que inspiram. A Casa do Zezinho, na zona sul de SP, recebe mais de 1.700 crianças da quebrada com oficinas criativas e apoio escolar. Lá, o lema é simples: ninguém fica pra trás. O resultado aparece: jovens com mais autoestima, mais planos, mais voz.

Outro projeto importante é o “Aula Pública”, do professor Paulo Magalhães, que dá aula de geografia na rua mesmo, usando o bairro como sala de aula. Ele acredita que a escola tem que fazer sentido para vida real do aluno — e quando isso acontece, o estudante se reconhece, se orgulha, se envolve.

Quando a escola acredita, tudo muda

A educação, quando é feita com respeito à história da quebrada, fortalece muito mais do que o currículo. Ela ajuda a levantar a cabeça, entender os direitos, ter voz. Quando um jovem aprende, ele passa a querer mudar a sua rua, sua cidade, seu país. Isso é cidadania.

É por isso que projetos como o do Santa Fé ou do Carisma são tão importantes. Eles mostram que o saber pode nascer em qualquer lugar, até numa sala feita de tijolo reciclado. Quando a escola acolhe de verdade, ela vira ponte para o futuro.

A própria Roseli, do Tijolinhos, diz: “Isso aqui é a realização de um sonho”. Um sonho coletivo, de uma comunidade que entende que educação muda tudo.

Fontes: Dados do IBGE e estudos acadêmicos sobre educação e periferia agenciadenoticias.ibge.gov.brscielo.br; reportagens e relatórios de ONGs (Centro Social Carismafundacaotelefonicavivo.org.br fundacaotelefonicavivo.org.br, iniciativas em Osascoosasco.sp.gov.brosasco.sp.gov.br) e jornalistas locaisj

Fernanda Matos Oliveira

Redatora

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