A campanha Agosto Lilás é anual e tem como objetivo incentivar as discussões a respeito da violência contra a mulher.
Ela acontece nesse mês, pois nele ocorre o aniversário da Lei Maria da Penha, sancionada no dia 7 de agosto de 2006, que completou 17 anos na semana passada.
Essa lei é uma homenagem para uma mulher chamada Maria da Penha.
Ela se tornou paraplégica por conta das agressões que sofreu do seu marido, e acabou se transformando em um símbolo da luta contra a violência doméstica.
A Lei Maria da Penha surgiu com o objetivo de amparar as mulheres vítimas dos mais diversos tipos de violência, desde a física, sexual, moral, psicológica, dentre outros.
Por isso, se você for vítima de violência doméstica, não hesite em denunciar. Para tanto, disque 180 para entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência.
Esse lugar funciona 24 horas por dia durante todos os dias da semana, incluindo finais de semana e feriados.
Além disso, esse telefone alcança o Brasil todo e as denúncias podem ser realizadas gratuitamente e de maneira confidencial.
Esse serviço pode ser utilizado tanto por mulheres que estejam em situações de violência ou quem tenha testemunhado algum ato desse tipo.
Outro fato importante é que nesse telefone, as pessoas também podem esclarecer as suas dúvidas sobre os diferentes tipos de violência.
Caso queira saber mais sobre como realizar uma denúncia e o passo a passo para isso, confira o site do Governo Federal clicando aqui.
Para contribuir com a construção desta matéria, entrevistamos a Maria Aparecida de Jesus que sofreu violência doméstica e trouxe o seu depoimento.
Dados sobre a violência contra a mulher no Brasil
Na última pesquisa realizada pelo Observatório da Mulher Contra a Violência que divulgada em 2021, houve um aumento de cerca de 30% das mulheres que sofreram violência física.
Já a violência psicológica, segundo esse mesmo estudo, aumentou 165% e a moral ultrapassou os 200%.
Conforme o relatório “Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil” divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública no início de 2023.
Ele alertou que os feminicídios cresceram 6,1% no ano de 2022, no qual 1437 mulheres foram mortas.
Os homicídios dolosos de mulheres aumentaram 1,2% em relação a 2021.
Já a violência doméstica cresceu 2,9% o que corresponde a 245.713 casos, e as ameaças aumentaram 7,2% o que equivale a 613.529 casos.
Enquanto que as ligações para o 190 (número de emergência da Polícia Militar), alcançaram 899.485, ou seja, são 102 chamadas por hora.
Por outro lado, os registros de assédio sexual aumentaram 49,7% o que equivale a 6.144 casos.
Já a importunação sexual cresceu 37% chegando a 27.530 casos.
Violência doméstica
Essa é muitas vezes silenciosa dentro dos lares, matando várias mulheres em um lugar que deveria ser de descanso e refúgio para as pessoas.
Dessa forma, ao voltar para casa, o indivíduo retorna para um ambiente tóxico, que causa medo, e onde muitas vezes está o seu agressor.
Porém, o impacto da violência doméstica nem sempre é somente nas mulheres especificamente, pois se o agressor está ao seu lado e eles têm filhos, certamente a vida deles será impactada de alguma forma também.
Dessa forma, os efeitos causados pela violência doméstica na vida das crianças são testemunhar tais atos, seja vendo os sinais físicos no corpo da vítima, presenciando ou ouvindo os abusos que a vítima está sofrendo.
Além disso, outra situação que também pode ocorrer é a criança sofrer abuso físico e/ou emocional do agressor, ou em alguns casos até da própria vítima.
A violência doméstica possui um ciclo que vamos descrever a seguir.
Geralmente ela apresenta 3 fases, que são:
1- Crescimento da tensão
Nessa etapa o agressor demonstra estar tenso e bravo por coisas pequenas. Ele humilha a vítima, ameaça a mesma e também destrói objetos.
A mulher, por sua vez, tenta tranquilizar o agressor, mas acaba ficando aflita e evitando fazer qualquer coisa que possa “provocá-lo” de alguma forma.
Aqui os sentimentos dela são variados, alguns exemplos são tristeza, angústia, desilusão e medo. Assim como a sensação de que algo perigoso está para acontecer.
2- Ações de violência
Esse é o momento em que o agressor explode, ele não consegue mais se controlar e acaba agindo de forma violenta.
Toda a tensão acumulada na fase 1, é materializada na forma de violência verbal, física, moral, patrimonial ou psicológica.
Mesmo sabendo que o agressor está fora de controle e pode trazer destruição para a sua vida, a mulher fica paralisada e sem reação.
É nesse período que ela passa por uma tensão psicológica severa que pode incluir perda de peso, insônia, cansaço constante, ansiedade, medo, solidão, pena de si mesma, ódio, confusão e até vergonha.
E nessa hora, ela pode tomar decisões como esconder-se na casa de algum familiar ou amigo, buscar ajuda, denunciar ou até cometer suicídio, essas são mais comuns e incluem um distanciamento do agressor.
3- Arrependimento e comportamento carinhoso
Essa fase é como se fosse uma lua-de-mel, é nela que o agressor se arrepende do que fez, agindo de forma carinhosa e dizendo que nunca mais fará aquilo novamente, buscando por reconciliação.
Algumas mulheres acabam aceitando e acreditando que isso realmente acontecerá. No início, ele passa a agir de forma diferente, lembrando os bons momentos que o casal teve junto, e a mulher se sente mais calma e feliz ao perceber essa mudança de comportamento.
Como ele demonstra que se arrependeu, a mulher se sente responsável por ele, o que deixa a vítima e o agressor mais próximos.
A mulher nesse período se sente confusa, culpada, iludida e até com medo, quando por fim a tensão volta e o ciclo recomeça com a fase 1.
Para quebrar esse ciclo, é necessário que haja formas para proteger essas mulheres. As medidas protetivas são um exemplo disso.
Elas são ordem judiciais que obrigam o agressor a se manter distante da vítima e do lar.
Elas também permitem a busca e apreensão de armas de fogo, proibindo o porte e a posse.
Além de assegurarem a sobrevivência da vítima e regulamentar visitas aos filhos e também cuidam da parte patrimonial.
Como saber se estou sendo vítima de violência doméstica?
Existem algumas perguntas que você pode fazer para si mesmo a fim de descobrir se está sofrendo violência doméstica. Elas são:
Se você responder “sim” para alguma dessas perguntas ou para mais de uma delas, você está sofrendo violência no seu relacionamento.
Se esse for o seu caso, procure ajuda. Nós do Projeto Base também estamos aqui para lhe ajudar se precisar.
Caso queira saber mais sobre o Agosto Lilás, confere a outra matéria que preparamos aqui para o jornal clicando aqui.
Maria Aparecida de Jesus e sua história: a dependência emocional dentro de um relacionamento
Maria Aparecida é uma mulher de 56 anos, mãe de três filhas, moradora de Osasco/SP. Foi casada duas vezes e sofreu violência doméstica nesses dois relacionamentos.
Quando jovem, ela teve problemas com álcool, mas ingressou em uma irmandade e conseguiu se recuperar.
Aos 38 anos, ela conheceu um homem que era dependente químico. E no dia em que se conheceram, ela também passou a utilizar essa mesma substância da qual ele era usuário, e eles começaram um relacionamento doentio.
Nessa época, Maria ficou grávida e ainda fazia uso de drogas. O relacionamento que ela tinha com esse homem começou a ficar conturbado, pois como ela mesma disse: “duas pessoas doentes juntas, é destruição na certa”.
A maior parte do abuso que ela sofreu foi emocional, mas também houveram alguns conflitos físicos e verbais.
No início do relacionamento ele dizia que amava ela e ia morrer sem ela.
Porém com o tempo, eles passaram a brigar bastante e ele ofendia muito ela dizendo frases como: “Você não vale nada”, “Você é prostituta, vagabunda”, “Você é um lixo”, “Você é um verme”.
Essas palavras destruíram ela ainda mais. E nessa época, também perdeu a sua mãe aos 42 anos de idade e precisava cuidar da sua filha que tinha 1 ano.
Ao ingressar na irmandade, ela começou a trabalhar assuntos como o autoconhecimento. E a partir disso, começou a perceber que estava em um relacionamento abusivo.
Muitas vezes, ela falava para ele o que estava de errado no relacionamento deles, mas ele colocava a culpa nela, a transformando na vilã da história por ser mulher.
Um dia, ela estava no banheiro passando mal e ele foi na porta e começou a brigar e inclusive a ofender a memória da mãe dela.
Foi nesse momento que ela disse para ele parar de falar da mãe dela e se levantou. Então, ele apontou o dedo para a cara dela e falou para ela tomar cuidado porque ele ia enfiar uma bala na cara dela.
Quando iniciou a sua recuperação por causa da dependência que tinha com álcool, ela percebeu que precisava de alguém ao seu lado e a primeira pessoa que apareceu ela se relacionou mas não foi como ela pensava que seria.
Uma das coisas que ajudaram ela a continuar lutando foi que ela nunca parou de trabalhar. Porém, a sua infância também foi sofrida, ela foi criada pela mãe que também era alcoólatra.
Maria acredita que muitas mulheres se encontram nessa situação de violência doméstica pela dependência emocional e que para conhecer mesmo uma pessoa, você só conseguirá fazer isso a partir da convivência.
Quando Maria conheceu esse homem, ela sabia que ele usava maconha, mas não deu bola para isso.
Ela disse que hoje está separada dele e que quando ele está bem, é uma ótima pessoa. Ele é um bom pai para a filha que eles tiveram juntos.
Maria pensou que ele iria mudar porque ele amava ela e eles tinham uma filha, mas isso nunca aconteceu.
Ela disse que esse período não foi nada fácil, que se sentiu sozinha e a pior pessoa do mundo.
Maria nunca teve medo de falar para as pessoas sobre esse assunto, porém não tinha coragem de tomar uma atitude até o dia em que ela percebeu que alguém precisava colocar a cabeça no lugar.
Foi então que ela se internou em uma clínica, e como tinha duas filhas mais velhas do seu casamento anterior, a sua filha pequena ficou sob a responsabilidade delas, já que a mãe de Maria já tinha falecido.
Depois que ela saiu dessa clínica, voltou a se relacionar com esse mesmo homem, pois estava emocionalmente dependente dele.
E essa dependência emocional, faz as pessoas perderem a sua essência, a sua dignidade.
Os conflitos que ocorriam dentro da sua casa eram presenciados pela filha pequena, que hoje faz tratamento psicológico, assim como a nossa entrevistada.
Ela também sofreu violência do seu primeiro marido. Ele assediava ela a realizar as fantasias sexuais dele.
“A partir do momento que você não é respeitado como ser humano, já é violência, como o próprio nome já diz, ela está violando o seu espaço” – Maria Aparecida de Jesus.
Quando ela voltou com o seu segundo marido, ela recaiu e passou a usar drogas novamente e tudo recomeçou só que com maior intensidade.
No momento em que veio a pandemia do Covid-19, ela já tinha parado de usar essas substâncias, mas ainda estava com ele.
Para ele, ela era tudo de ruim, mesmo cumprindo com as suas obrigações. Maria só não era a mulher que ele conheceu e falou que gostaria de ter um relacionamento com ela.
Foi no período da pandemia que ela se separou dele, arrumou uma casa e um emprego, pois até então estava desempregada, e realizava serviços como faxinas para ganhar a vida.
Ela recebeu o apoio de muitas pessoas, e inclusive, a vida religiosa que tinha através da sua fé em Deus, lhe ajudaram a permanecer forte durante esse momento de dificuldade.
Ela passou por todos os processos que as mulheres passam como o boletim de ocorrência, foi para a delegacia da mulher e fez tudo.
Entretanto, a única saída verdadeira foi ela querer mudar de vida ao perceber que ele não amava ela e que ela não se amava.
Ela nos deu um conselho: “Preste atenção, pois as pessoas dão sinais. Não tem como a gente conhecer uma pessoa tão rápido”.
Ela acredita que se tivesse baixado a guarda, ainda estaria vivendo nesse relacionamento hoje e pensando: “Coitada de mim”.
Se o homem lhe maltratar e depois vier pedindo desculpa e dizendo que foi sem querer, para se livrar desse relacionamento abusivo, é melhor cortar o mal pela raiz.
Ela até tentou pedir ajuda para a família, mas por ser bem enérgica, eles acharam que ela estava mentindo e não acreditaram nela.
E ele, por outro lado, aparentava ser uma pessoa calma, por isso ele passava por bonzinho e ela por vilã da história.
Porém, ele fez tanto mal para ela, que ela chegou a correr atrás da própria filha com uma faca na mão.
Ela queria ajuda, estava atordoada e sua filha disse que a culpada era ela.
Para se libertar da violência, a mulher precisa ter iniciativa. Ser violentado não é normal e os filhos que vivem em lares assim, podem pensar que ter um relacionamento dessa forma é natural, comum, mas não é.
Se um homem levantar a voz para você, já é um indício de que ele quer dar a última palavra.
Referências:
https://ufal.br/ufal/noticias/2022/8/agosto-lilas-na-ufal-campanha-abre-o-debate-sobre-violencia-contra-mulheres Acesso em 10 de ago. de 2023.
https://www.camaratf.ba.gov.br/campanha-agosto-lilas-incentiva-o-debate-sobre-a-violencia-contra-a-mulher/ Acesso em 10 de ago. de 2023.
https://www.saopaulo.sp.leg.br/blog/agosto-lilas-mes-de-conscientizacao-no-combate-a-violencia-contra-a-mulher/ Acesso em 10 de ago. de 2023.
https://al.se.leg.br/agosto-lilas-maria-ratifica-importancia-de-medidas-de-combate-a-violencia-contra-a-mulher/ Acesso em 10 de ago. de 2023.
https://www.tre-rr.jus.br/comunicacao/noticias/2023/Agosto/agosto-lilas-mes-de-conscientizacao-para-o-combate-da-violencia-contra-a-mulher Acesso em 11 de ago. de 2023.
https://www.saopaulo.sp.leg.br/blog/agosto-lilas-mes-de-conscientizacao-no-combate-a-violencia-contra-a-mulher/ Acesso em 11 de ago. de 2023.
https://www.gov.br/pt-br/servicos/denunciar-e-buscar-ajuda-a-vitimas-de-violencia-contra-mulheres Acesso em 14 de ago. de 2023.
https://apav.pt/vd/index.php/features2 Acesso em 14 de ago. de 2023.
https://www.naosecale.ms.gov.br/violencia-domestica-2/ Acesso em 14 de ago. de 2023.
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