Fila da Saúde em Osasco: por que a espera por exames e cirurgias cresce, mesmo com orçamento bilionário?

Foto ILUSTRATIVA: Prefeitura de Osasco
Fila da Saúde em Osasco: por que a espera por exames e cirurgias cresce, mesmo com orçamento bilionário?
Por Letícia Lima Laurino
Mesmo com um orçamento recorde de R$ 5,16 bilhões aprovado para 2025, sendo mais de R$ 1,13 bilhão reservado à área da saúde, moradores de Osasco seguem enfrentando longas filas, demora para exames e dificuldades para conseguir consultas médicas. A sensação de abandono predomina entre usuários do SUS, que relatam falhas em praticamente todas as etapas do atendimento.
Sistema travado: filas, reagendamentos e falta de retorno
A demora começa já nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), com exames simples sendo marcados para até dois meses após o pedido. Pacientes relatam não conseguir sequer agendar retornos com especialistas. Em situações de urgência, o cenário se agrava ainda mais.
“Você vai no posto com dengue, no pronto-socorro, e fica 3, 4, 5 horas dentro da UPA para ser atendido. Não existe agendar exame de sangue nas UBSs e marcar para um mês, dois meses depois. Isso é surreal”
Diz Cristina Cordeiro moradora da região.
A situação atinge com mais força idosos, pacientes crônicos e mães que dependem de pediatras para acompanhar seus filhos. Muitos relatam falta de informação e dificuldade de agendamento por telefone ou aplicativo.
Casos de negligência e recusas no atendimento infantil

Cristina também denuncia episódios de recusa de atendimento ao próprio neto, de oito anos, em unidades públicas da cidade.
“Meu neto chegou no pronto-socorro do Munhoz com 39,5ºC de febre e o clínico se recusou a atender, dizendo que não era pediatra. Mandaram embora sem chamar ambulância ”
Cristina Cordeiro
Segundo ela, em outro episódio, o menino sofreu uma fratura no dedo e também teve o atendimento negado. “O ortopedista disse que não atendia criança. Isso não existe. Tivemos que levar ele gritando de dor para o Antônio Giglio, onde passaram primeiro com pediatra, depois com ortopedista. Um processo que levou horas.”
Falta de insumos básicos nas unidades
Além das falhas no atendimento, moradores enfrentam dificuldades para conseguir insumos essenciais, como soro fisiológico e hipoclorito de sódio, usados para higienização de feridas, alimentos ou tratamentos pós-operatórios.
“Minha mãe operou o nariz e precisava lavar com soro seis vezes por dia. Foi ao posto buscar e negaram. A médica do HC mandou entrar com ação contra o município, porque eles são obrigados a fornecer”
Cristina Cordeiro
Ela também menciona que sua irmã, paciente com deficiência auditiva, só conseguiu um aparelho auditivo após buscar atendimento fora da cidade, no município de São Paulo.
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Alta demanda, poucos resultados
Os dados mais recentes da Prefeitura apontam grande volume de atendimentos. No primeiro quadrimestre de 2025, foram registrados:
- 1,76 milhão de atendimentos ambulatoriais
- 1,1 milhão de exames realizados
- 188 mil doses de vacina aplicadas
- 1,2 milhão de receitas entregues nas farmácias municipais
Apesar disso, os relatos dos moradores indicam que o sistema segue sobrecarregado e ineficiente, com longas filas e baixa capacidade de resposta.
A taxa de ausência dos pacientes, conhecida como absenteísmo, foi de 23,8% nesse período. Isso representa centenas de milhares de consultas e exames desperdiçados, agravando ainda mais a lentidão no atendimento.
Cristina questiona a estrutura das unidades durante os plantões noturnos:
“Depois das 20h, eles colhem exame e mandam voltar no outro dia. Dizem que o médico quer dormir. Eu quero que me mostrem a lei onde está escrito que o médico pode dormir à noite. Se ele pode, então o enfermeiro também pode”
Cristina Cordeiro
Enquanto isso, a fila segue
Osasco tem orçamento e volume de atendimentos altos, mas a população ainda enfrenta um sistema que falha na base: agendamento, retorno, estrutura e insumos. Enquanto isso, os moradores seguem na fila, não apenas por um exame ou cirurgia, mas por um atendimento digno, eficaz e humanizado.