Na borda da cidade, onde o concreto encontra a terra batida, habitam pessoas destemidas, talentosas e entrelaçadas pelo fio invisível dos versos e das rimas. Conheça a história de três poetas periféricos e suas narrativas.
Do pai repentista, nasceu um poeta
Em uma época em que a cidade de São Paulo pulsava desenvolvimento e poesia, um menino de oito anos, acompanhado de seu pai, frequentava bares onde se reuniam artistas e intelectuais.
Do pai repentista, nasceu um poeta.
O pequeno poeta se tornou um grande artista e, nos fervorosos anos 1970/80, já não mais um menino, mas um homem, expôs pela grande São Paulo pulseiras, brincos e colares feitos com latão e alpaca.
Em 1987 lançou seu primeiro livro, “Segredos da Solidão”, publicado pela Editora João Scortecci. Nessa época, vendia cinquenta livros por noite, indo de bar em bar. Em seu interior, o pequeno poeta nascido em bares de artistas ainda vivia, orgulhoso do grande poeta que se tornara. Além de bares, vendia seus livros em filas de teatros, cinemas e escolas. O artista tem que ir onde o povo está, e assim era.
Em 1991 lançou seu segundo livro, Pasto dos Chacais, edição do autor. Esses poemas foram pensados nas mesas de bares e botecos, entre conversas do cotidiano, discordâncias, romances, desabafos, piadas e política, tudo isso regado à tradicional cerveja.
Em 1999, lançou seu terceiro livro, “Cidadão do Mundo”, edição do autor. Este livro reflete os acontecimentos no planeta, expressando sua preocupação com o curso da humanidade. Uma obra que serve como um alerta e um chamado à consciência sobre o respeito que o ser humano deve ter pela natureza e por sua própria espécie.
Em 2002, lança Os Imprescindíveis, edição do autor. Após a criação dos poemas, pesquisou mais de 25 mil verbetes, selecionando 35 para serem inseridos na abertura de cada poema.
Após tantos lançamentos bem-sucedidos, o pequeno grande poeta não se contentou em ficar confinado às fronteiras do Brasil. “Os Imprescindíveis” foi traduzido para o castelhano, por Márcia Regina Veiga, e foi aprovado para ser utilizado em aulas de português no Instituto de Idiomas de Barcelona.
Nos anos seguintes ao sucesso internacional, participou de eventos como A Primeira Mostra de Cultura do Butantã, de apresentações em saraus da Casa de Cultura do Butantã, Sopa de Letrinhas no KVA e Jajabar Via Cultural. Declamou poemas no Sesc Pompéia, na Feira da Pompéia, na Feira da Vila Madalena e na Feira Cultural de Osasco.
O poeta, em uma terra onde autores independentes muitas vezes não recebem o devido reconhecimento, participou de um dos eventos literários mais renomados do país, a FLIP, em coautoria com Mônica Sena, venderam seus livretos “Prosa e Poesia” (2005) e “Verso e Poesia” (2008) de forma independente durante o evento, enquanto conheciam outros escritores e criavam laços literários e de amor por onde passavam com seus livros.
O poeta nascido de um pai repentista, nosso personagem periférico, se chama Jura, nascido em 1962 em São Paulo.
Contatos do autor:
Instagram: @jura.silva.735
Facebook: facebook.com/jura.silva.735
E-mail: jurahistoriar@yahoo.com.br
Uma poeta brincante
Era uma vez, uma mãe que brincava com as palavras, recitando cantigas, trava-línguas, parlendas, adivinhas e provérbios, e uma menina encantada pela brincadeira que, de repente, estava envolta e refém pela arte da escrita. Quando viu, já escrevia.
Assim, nasceu uma poeta brincante.
Desde nova, ela se encantava pela mistura de poesia e brincadeiras, descobrindo que as palavras, nas mãos de um talentoso escritor, se tornam jogos e diversão. Sob essa influência, a menina cresceu e, ao se tornar adulta, iniciou sua jornada literária na cidade de São Paulo. Com a convicção que escritores têm a missão de plantar sementinhas poéticas por onde passam, a poeta brincante declamou poesias em bares, escolas e diversos outros locais sociais.
Em 2010, com a participação no Sarau da Educação e Cultura, em Osasco, deu continuidade à sua jornada literária.
Em seu repertório literário, possui quatro fanzines escritas em parceria com seu esposo, além de ter participado de três antologias, sendo uma delas voltada para o público infantil e com poetas de Osasco. O livro “Poesias Dobradas”, coletânea que participa, foi organizado pelo origamista Edson Lopes da Silva, que ele mesmo coloriu com dobraduras, um presente artístico para a cidade de Osasco.
É autora do livro infantil “Recriançar”, com duas poesias e recheado de brincadeiras e imagens ilustradas por Julia Navarro.
A poeta brincante nutre um profundo amor pelo Folclore Brasileiro e se inspira no Saci, o travesso personagem que desafia regras, para transformar e criar brincadeiras em cada evento que participa.
Como todos os poetas, seu coração não perde a esperança de que, a médio e longo prazo, a Cultura vai crescer e abrilhantar cada vez mais os palcos das cidades, em especial de Osasco, sua cidade de atuação.
A poeta brincante, nossa personagem periférica, se chama Mônica Sena, moradora de Osasco há mais de 15 anos.
Contatos do autora:
Instagram: @monicavisena @recriancar
Facebook: monicavisena
YouTube: canal @mamaefilhinho2195
Poeta de corpo e alma
Aos quatorze anos, uma jovem descobriu sua paixão pela arte, abraçando o teatro, a dança e, por fim, a poesia e a escrita.
Entre todas as suas paixões artísticas, o teatro foi o ponto de partida. No colégio, ela liderava o grupo do conselho, escrevendo e atuando em peças teatrais. Assim, seu primeiro contato com a escrita veio através da dramaturgia.
Um tempo depois da primeira peça escrita, começou a escrever poemas, a maioria ligados às artes cênicas, convicta de que sua poesia vinha do corpo.
Nascia uma poeta de corpo e alma.
Na vida adulta, publicou dois livros de poesias: Corpo Poética e Alguma Coisa Corpo; e participou de antologias de diversos gêneros literários. Em 2010 levou sua poesia para as feiras do livro de Portugal.
Um dos momentos mais marcantes foi quando essa poeta, que tanto se entregava por completo à sua arte, estampou a capa do jornal “A Folha de São Paulo”. Em uma edição de 2022, dedicada a homenagear escritoras brasileiras, dentre várias mulheres brancas, cerca de quarenta mulheres negras foram destaque, e lá estava a poeta de corpo e alma representando, na capa de um dos maiores jornais do país, uma parcela esquecida e vulnerável da sociedade: a mulher negra escritora.
Com as experiências da vida, aprendeu a vender sua poesia de uma maneira única, mesclando seus maiores talentos: poesia e teatro. A poeta de corpo e alma cria performances nos eventos literários em que participa e, em seguida, comercializa seus livros, unindo poesia e teatro, poesia e corpo.
A poeta de corpo e alma, personagem periférica da nossa última história, é a autora Viviane Neres. Atualmente, além de escritora, é dona da empresa TeArte Produtora/Editora, tornando sonhos de outros autores reais ao editar livros.
Contatos da autora:
Instagram/Facebook: @vivianenerescultura
Instagram: @tearteprodutoraeditora
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Bateu aquela curiosidade para ler um pouquinho do que eles escrevem?
Poesia 1:
Maria da Penha
Cala-te mulher
Diz o marido bravo
Vá prá cozinha
Prepara algo do meu agrado.
Ela sem palavras neste momento
Baixa os olhos com humildade
O marido nem percebe
Uma lágrima inundou a cidade.
Maria da Penha, exemplo de luta
Marido deixou-a paraplégica com um tiro
Numa segunda vez tentou eletrocutá-la
Violência familiar tem que ser denunciada.
Mulheres não se intimidem
Diante do agressor
Vocês evoluíram, abandonaram seus tanques
Homens brincam de guerra, matam sem pudor.
JURA
Poesia 2:
E eis que chega o dia!
Amor, felicidade.
Outro ciclo se inicia.
Parte da estrada caminhou,
Muito tem a conquistar!
Sua história construiu.
E continua a registrar!
E é o tempo tão sábio,
Nos permitindo aprender.
A cada ano oferece,
Nova trajetória a percorrer!
Não à guerra!
Lutas internas a vencer!
Sim a ternura.
E tudo que tem pra se viver!
MÔNICA SENA
Poesia 3:
O que é arte.
Arte é uma das possibilidades de estar no mundo
É mergulhar no interior de cada ser
É viver intensamente suas sensações e emoções
Arte que comunica e expressa a alma
Arteando o mundo
Desterrando histórias de pessoas que vivem
Arte naturalmente artística
Arte é tudo isso e mais um pouco
Que se esconde nos corações
Que insistem em bater como notas musicais
No universo de cada alma humana
Arte é liberdade
A arte liberta
VIVIANE NERES
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Parabéns pela matéria. Divulgar os artistas que vieram e são da periferia incentiva ainda mais muitos outros que produzem sua arte e conquistam mais espaços na divulgação por intermédio do Jornal Aborda,incentivador de todas as artes. Abraço
Sempre prazeroso ler uma matéria tão bem escrita! Gratidão pelo trabalho, é maravilhoso poder conhecer novos artistas, principalmente quando eles vem do mesmo lugar que a gente. Parabéns ❤️