Entrevista com Thiago Moretti, autor Osasquense de ficção cientifica

A trajetória deste escritor mostra como a literatura pode surgir dos encontros mais inesperados e transformar vidas inteiras. Nesta entrevista, ele relembra as primeiras influências ainda na escola, o impacto decisivo da descoberta de autores nacionais e o papel da periferia na construção de sua identidade literária. Também fala sobre preconceitos ainda presentes no mercado, o crescimento da ficção científica no Brasil e as reflexões que a inteligência artificial desperta em seu trabalho. Um panorama completo sobre sua formação, visão de futuro e projetos em andamento.
JA: Quando e como foi seu primeiro contato com a literatura?
TM: Meu primeiro contato com a literatura foi ainda na escola. Eu estudei na Fundação Bradesco em Osasco, os professores sempre incentivaram a lermos as obras clássicas, mas também incluíam outras obras muito importantes, de autores como Gabriel Garcia Marquez, Freeman Dyson e Ernest Highway. No entanto, fui me interessar pela leitura apenas na adolescência, quando uma amiga me trouxe um exemplar do livro Os Sete, do escritor osasquense André Vianco. Ali tudo mudou para mim: percebi que escrever não era algo distante da minha realidade e, então, com 16 anos, escrevi o meu primeiro livro.
JA: Você acha que o local que você nasceu influência nas ideias e na sua escrita?
TM: Certamente. Em meu caso, fui muito influenciado pelo autor osasquense André Vianco. Posteriormente, as portas se abriram e tive acesso a outros escritores, como Isaac Asimov, Arthur C. Clark e Philip K. Dick.
JA: Como você lida com o preconceito literário a autores nacionais e dentro da própria cidade?
TM: Vou além: existe um preconceito enraizado por e entre os próprios autores nacionais. Hoje possuo nove livros publicados, uma rede de seguidores no Instagram que soma 8.000 pessoas e, ainda assim, em toda publicação leio comentários do tipo: “Nossa! A história é tão interessante e é nacional?” Por isso faço questão de que, em meus livros, as histórias se passem em território nacional.
JA: E quanto às questões da queda da literatura como um todo?
TM: Tenho uma opinião contrária quanto a isso. Muitos filmes e séries são baseadas em livros ou contos, e isso só vem crescendo. O que sinto falta é de o mercado nacional conseguir alcançar as grandes produções e adaptar obras magníficas escritas no Brasil, mas longe da língua anglo-saxônica
JA: Como você chegou à escrita de ficção científica?
TM: Foi por um acaso. Um amigo me disse que Asimov era um gênio, que havia escrito mais de 500 livros. Eu fiquei atônito. Na época, eu já flertava com a astronomia amadora e, dessa forma, me arrisquei a ler seus principais escritos. Foi amor à primeira vista. Hoje tenho uma tatuagem em sua homenagem e li grande parte de sua obra.
JA: Eu li A falha de Turing, um livro sobre o domínio da IA. O livro foi publicado em 2021 e hoje há todo um debate sobre como a IA está dominando a vida. Você acha que, de alguma forma, isso já era previsível?
TM: Sou filósofo de formação; dessa forma, estudei muito a história, e ela é cíclica. A inteligência artificial é, o que para a geração de anos atrás foi o motor a combustão. A grande questão é que o motor a combustão não é capaz de ligar o seu sistema sozinho e decidir por qual caminho irá seguir. Acredito que estamos avançando a passos largos no quesito de inteligência artificial e nos distanciando da humanidade. Não tenho base científica para poder afirmar, porém entendo que, em poucas décadas, teremos a inteligência artificial implementada no ser humano, e seremos um só. É claro que ainda existirá a inteligência artificial separada, aquela que prestará serviços e demais trabalhos que o homem, posto em um altar de inteligência a qual não pertence, não desejará mais fazer.
JA: E como, para você, a ficção científica chega em lugares periféricos?
TM: Me preocupo muito com isso. Acredito que de forma lenta, mas sim. Assim como os computadores e a internet primeiro foram acessados por aqueles de maior poder aquisitivo, hoje em dia é praticamente impossível ir a um lugar em que não exista internet, celular ou notebook. A grande questão que penso, é que se esse futuro distópico, em que o homem e a inteligência artificial se fundirem, ganhando, assim, vantagens no mercado de trabalho, em quanto tempo a periferia terá acesso a essa mesma regalia. Se é que terá acesso.
JA: Quais são seus próximos passos?
TM: Acabei de lançar um livro chamado Antes do Silêncio — Volume Dois. É mais uma distopia: um conjunto de sete contos em que, sem explicação alguma, as pessoas possuem palavras contadas para dizer, independente de sua classe social, cor, credo ou religião. Nesses contos, tento imaginar como é criar um filho sem poder falar, como ter um relacionamento romântico, como pedir perdão e se ainda é possível ser feliz. Agora reinicio o trabalho da parte final do livro 2102 — A Falha de Turing, que deve ficar pronto e disponível no segundo semestre de 2026
JA: Como foi ser publicado e — qual foi o processo — em plataformas de grande alcance como a Biblion?
TM: Eu sou um escritor independente. Apesar de ter nove livros escritos e publicados, sempre fiz por mim mesmo. Fico muito feliz de ter alcançado plataformas como essa. Aliás, a maioria dos meus livros são narrados e estão disponíveis de forma gratuita no YouTube para quem quiser ouvir. De todo modo, agradeço imensamente o espaço de expressão e espero que o brasileiro compreenda que a leitura é como uma novela ou série: ela pode ser divertida, angustiante, despertar sentimentos e curiosidades. Um grande abraço e até a próxima.
A presença do autor em plataformas de grande alcance, como a Biblion, reforça a importância de democratizar o acesso à literatura nacional. Sua experiência como escritor independente, que conquistou espaço por esforço próprio, ganha ainda mais relevância ao alcançar leitores por meio de um projeto público que valoriza a produção brasileira. Para ele, estar no Biblion significa ampliar vozes, romper barreiras regionais e aproximar novos públicos de obras que dialogam com ciência, futuro e realidade social. A entrevista evidencia não apenas sua trajetória, mas também o papel essencial de iniciativas como o Biblion na circulação de autores contemporâneos e na formação de novos leitores no país.
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