Entre o prato e o planeta: por que repensar o consumo de carne é urgente
Por Barbara Marques
A adoção de dietas veganas ou vegetarianas, ou mesmo a simples redução do consumo global de carne, pode ser um caminho eficaz para conter o desmatamento, a crise hídrica e os impactos das mudanças climáticas.
De acordo com a Iniciativa Pecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento (LEAD, na sigla em inglês), a pecuária é responsável por 18% das emissões globais de gases de efeito estufa, incluindo 9% de dióxido de carbono e 37% de metano liberados em todo o mundo.
No Brasil, um estudo publicado na revista Sustainability (2024) mostra que dietas mais baseadas em vegetais podem reduzir a pegada ambiental da alimentação em 16% a 55% nas emissões de carbono e entre 12% e 35% no consumo de água e impacto ecológico.
Apesar de os números apontarem para vantagens evidentes na redução do consumo de carne, essa não é uma transição simples para toda a população.
Em primeiro lugar, ainda falta informação sobre os benefícios dessa mudança alimentar — o que ajuda a reforçar o tabu de que ser vegetariano ou vegano é algo distante da realidade. Outro empecilho é o fato de a discussão ambiental ainda ser tratada como um tema elitizado, restrito às classes médias e altas.
“A degradação do meio ambiente afeta a todos, portanto, essa não é a visão mais prudente a ser adotada. Um caminho urgente é o aprimoramento da educação formal, para que aborde a questão ambiental de forma integral, e não apenas em disciplinas isoladas e rasas”, afirma Paula Brügger, bióloga, mestra em Educação e Ciência, doutora em Sociedade e Meio Ambiente e coordenadora do Observatório de Justiça Ecológica da UFSC.
Débora dos Santos Moura, de 34 anos, mora no bairro de Quintauna, em Osasco, e é vegetariana desde os 16. No dia a dia, não enfrenta grandes dificuldades para montar suas refeições: consome ovos, pães, arroz, feijão, legumes e verduras.
“São alimentos fáceis de encontrar e de preparar. Meu maior desafio é o preço das substituições e garantir a reposição de todas as vitaminas de que preciso”, conta.
Para ela, seria mais difícil seguir uma dieta totalmente vegana, já que poucos comércios na região oferecem opções para esse público e, quando oferecem, os preços são mais altos.
A Dra. Paula explica, porém, que uma alimentação equilibrada não precisa ser complexa:
“Um prato de arroz com feijão já garante todos os aminoácidos essenciais de que precisamos. E, quando acrescido de legumes e vegetais, tem um valor nutricional ainda maior.”
A pesquisadora ainda destaca a necessidade de rever as bases da política agrícola brasileira:
“É essencial baratear o preço dos alimentos, especialmente os orgânicos. Mas, para que essa mudança aconteça, precisamos de uma profunda reforma na política nacional. Hoje, mais de 200 milhões de hectares são destinados à produção de carne e de commodities como soja e milho, cultivados, em sua maioria, para ração e exportação, e não para alimentar pessoas. Tudo isso com subsídios e renúncias fiscais que somam bilhões de reais.”
Apesar dos desafios, o vegetarianismo e o veganismo seguem como convites possíveis e urgentes para repensar a forma como produzimos e consumimos alimentos.
Débora resume bem a ideia:
“O ideal é reduzir aos poucos, para o corpo se adaptar. Dá pra fazer trocas inteligentes que deixam a refeição mais barata e ainda nutritiva, como substituir a carne por ovos algumas vezes na semana.”