Ser uma mulher mãe e empreendedora na periferia não é uma tarefa fácil, são muitos os desafios, porém é possível.
Isso é o que você vai ver na matéria que preparamos. Confira abaixo.
Entrevistamos também a Karoline Maciel que contribuiu para a construção dessa matéria.
Mulheres: mães e empreendedoras
Segundo dados do Global Entrepreneurship Monitor 2020 (GEM), a principal pesquisa sobre empreendedorismo do mundo, realizada junto com o Sebrae, 30 dos 52 milhões de empreendedores no Brasil são mulheres. Ou seja, isso equivale a 48% desse total.
E para a maioria dessas mulheres, empreender é uma necessidade, isto é, elas fazem isso pois estão desempregadas, para ajudar com as despesas da casa ou ainda, para mantê-la, já que muitas são mães solteiras.
Felizmente, essa não é uma realidade em Osasco, São Paulo, onde muitas pessoas empreendem por essa ser a melhor opção, conforme Karoline disse na nossa entrevista:
“Aqui por ser uma cidade menor, tem uma atenção maior das pessoas, tá vindo empresas grandes, então tá dando muita oportunidade de trabalho, então falta de emprego aqui talvez não seja tanto o problema. Por isso que eu acredito que aqui em Osasco, as pessoas empreendem porque elas querem, porque elas entendem que dá dinheiro”. – Karoline Maciel.
Porém, no mercado de trabalho a maternidade gera preconceito e faz com que muitas mães percam seus empregos.
Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas com cerca de 250 mil mulheres, mostra que em torno de 50% perderam seus empregos depois de um ano do início da licença maternidade.
E na nossa conversa com a Karoline, ela disse que acredita que as mães sofrem preconceito no mercado de trabalho porque são elas que vão às reuniões escolares, que cuidam dos filhos quando estão doentes, ou seja, a empresa precisará ser mais flexível com elas nessas situações.
Aquelas que não são demitidas e discriminadas por isso, muitas vezes saem de seus empregos por essa inflexibilidade de horários.
Ela também é uma razão para 52% das mães optarem por abrir um negócio, conforme aponta a pesquisa realizada pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora.
Dessa forma, empreender acaba se tornando a melhor saída para essas mulheres, que além de conseguirem ganhar dinheiro para sobreviver, conseguem estar mais próximas e cuidar dos seus filhos.
Dessas mulheres empreendedoras, 60% são negras e a maioria delas vive nas periferias. Muitas vezes é a mulher que é a referência para essas famílias.
Segundo dados do Sebrae, 49% das mulheres negras começam a empreender verdadeiramente por necessidade, enquanto para as brancas, esse número cai para 35%.
Já no que diz respeito à renda, as negras ganham pouco mais da metade do que as brancas no Brasil, R$ 1617 e R$ 2674, respectivamente, segundo dados do Dieese.
O empreendedorismo feminino, traz autonomia financeira para a mulher, faz a economia crescer, gera emprego e transforma as relações sociais.
Mesmo assim, empreender é um trabalho que exige dedicação, esforço e por vezes será difícil conciliar com a maternidade. Mas se tem alguém que consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo, é a mulher.
Segundo o relato da Karoline, as mães empreendedoras têm uma rotina louca, precisam dar atenção para as necessidades dos filhos, cuidar da casa e da empresa.
“A vida de todo o empreendedor é uma loucura, a gente acaba trabalhando muito mais do que um funcionário”. – Karoline Maciel.
Pesquisas da Kauffman Foundation e da Dow Jones, demonstraram que as empresas lideradas por mulheres costumam gerar um lucro 12% maior que aquelas que os homens ocupam esse cargo, mesmo que seu capital inicial seja três vezes menor.
E ainda, os negócios dirigidos por mulheres, resistem melhor às crises financeiras.
Em 2022, divulgou-se a 7ª edição Pesquisa Anual sobre Empreendedorismo Feminino realizada pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora em parceria com o Instituto de Pesquisa Locomotiva e apoio da Meta/Facebook.
Esse estudo trouxe alguns dados relevantes sobre as condições das mulheres empreendedoras do país.
Acerca da condição social, a maioria das mulheres empreendedoras têm entre 35 e 40 anos, fazem parte da classe C e têm companheiro.
Além disso, 38% delas vivem nas periferias, 73% são mães e 66% delas têm filhos pequenos ou adolescentes.
Nesse cenário, somente 28% das empreendedoras têm ensino superior, boa parte delas só têm Ensino Médio ou Fundamental.
Sobre o negócio, a maioria deles foram abertos nos últimos cinco anos, dos quais 55% vendem produtos e 32% prestam serviços.
Quanto à formalidade, 50% das empresas são formais, dessas 70% são MEI (Microempreendedor Individual) e 37% já empreenderam anteriormente.
No que diz respeito ao controle do fluxo de caixa, 54% já usam planilhas do Excel, aplicativos ou outras formas para controlar as contas, o que já é um grande avanço em relação à primeira edição da pesquisa, em que 24% não realizavam controle das contas.
Já em Osasco, São Paulo, algumas das empreendedoras recebem apoio familiar e sabem que se algo acontecer, os familiares estarão lá para ajudar.
Outras, não se encontram nessa situação, e como a Karoline disse, elas “tem que abrir mão de si para continuar dando atenção para os filhos e o negócio”.
Porém, essas mães empreendedoras por terem uma renda maior do que um salário fixo, conseguem investir em estudo e aperfeiçoamento.
Mas, claro que isso vai depender dos gastos dessa pessoa, das suas prioridades e também se tem apoio financeiro de um companheiro, por exemplo.
Outro dado importante que obtivemos a partir da nossa entrevista com Karoline, é que algumas mulheres têm empresas que atuam na formalidade, outras não, é mais ou menos 50% a 50%.
Dessas empreendedoras, umas não têm CNPJ por acharem que esse não é um bom investimento e outras por falta de informação.
Entretanto, como já trouxemos aqui no jornal com a matéria “O que é preciso saber para abrir um MEI?”, que também se confirmou na nossa conversa com a Karoline, ser um empreendedor com MEI, traz os mesmos benefícios que trabalhar em regime CLT.
Além disso, nossa entrevistada nos disse que é muito importante realizar o controle financeiro. Ela utiliza planilhas para tudo, inclusive nessa situação.
“A planilha é muito boa e muito necessária para a gente se programar e não perder. Porque você empreender é uma coisa que exige constância, porque um dia vai estar muito bom e outro dia não. E quando você pega uma planilha e coloca tudo no papel, fica mais claro para você, e você entende que um dia compensa o outro, que hoje isso não deu certo porque talvez é no próximo dia que vai ficar melhor”. – Karoline Maciel
Algumas dicas para as mulheres que querem empreender na periferia
Defina o tempo que você vai se dedicar aos seus filhos, sua casa e ao seu negócio. Mesmo que o empreendedorismo lhe traga essa flexibilidade de horários, é importante que você priorize o que for mais importante para você no momento.
Essa liberdade é muito importante e ajuda as mulheres a conciliar seus negócios com a maternidade.
Saiba quais são seus pontos fortes, potencialidades, fraquezas e limitações. A partir do momento que você sabe o que consegue fazer e até onde consegue ir, traçar um plano para o seu negócio se torna mais fácil
Não tenha medo de tentar e errar, a vida é feita de erros e acertos. Mas com as nossas falhas, podemos aprender e crescer, nada é em vão.
E ao tentar, você não fica com o sentimento de arrependimento pensando “E se eu tivesse feito…”, e mesmo que falhe, algum aprendizado você vai ter com essa situação.
Coloque-se no lugar do seu cliente e descubra quais são suas necessidades. Assim, você poderá pensar em estratégias para que o seu produto solucione esse problema.
Ter pessoas ao seu redor que torçam pelo seu sucesso e te ajudem quando precise, é fundamental, pois incentiva a mulher a tocar o seu negócio.
Então, você que é familiar de alguma mulher empreendedora, apoie essa pessoa, diga que está lá para ajudar com o que for necessário. Essas atitudes simples motivam as mães empreendedoras a continuar e crescer ainda mais.
Gerenciar um negócio, é muito parecido com a maternidade: não ter ideia por onde deve começar, estar trabalhando sob pressão, determinar as prioridades e pensar no bem-estar de todos, são alguns exemplos.
Além disso, resolver problemas inesperados, que muitas vezes demandam soluções criativas, e ainda tomar decisões rápidas são alguns dos desafios tanto em casa quanto no trabalho.
Em um negócio, a criatividade é um fator essencial, principalmente quando se está no início e o orçamento é baixo.
Nessa vida sempre existirão pessoas para te dizer como você deve fazer as coisas, querendo fazer com que você sinta que está fazendo tudo errado.
Não deixe elas fazerem isso com você, afinal, errar faz parte do processo de crescimento, não só pessoal, mas profissional também.
Ninguém nem nada é perfeito nesse mundo, as dificuldades fazem parte da nossa jornada, mas existem para serem superadas e nos fazerem crescer.
Então, não se intimide com isso. Certas escolhas naturalmente serão mais fáceis, outras mais difíceis, mas ao tomar suas decisões, não se esqueça do seu objetivo.
Além de que sua história certamente servirá de inspiração, e seus filhos vão se espelhar em você, uma mulher que trabalha duro e busca realizar seus sonhos.
A Karoline, também nos deu algumas dicas que aprendeu em um treinamento. Elas falam sobre os 4 pilares para você levar a sua vida e o seu profissional, eles são:
A dica dela é: “Trabalhe com algo que não afete nenhum desses 4 pilares e faça algo que você tenha realmente vocação, que seja uma coisa fácil, porque empreender é uma coisa muito difícil, que exige de você todos os dias e 24 horas por dia”. – Karoline Maciel.
Ela entende que precisa ser algo que você domine para que o seu começo não seja para que o seu início não seja tão difícil a ponto de você querer desistir antes mesmo de atingir alguma estabilidade.
Além disso, a empreendedora precisa ter paciência e respeitar o processo, “Porque a gente vai subindo um degrau por vez e às vezes a gente desce dois para subir mais três, é isso aí que é o empreendedorismo, não é uma coisa que você começa hoje e já senta na janelinha igual você vê grandes empresas hoje”. – Karoline Maciel.
Projetos que apoiam mulheres empreendedoras
É uma rede de apoio para mães empreendedoras criada por Clareana Eugenio, que é mãe de três filhos.
Esse grupo foi formado no Facebook para que as mães pudessem vender ou trocar roupas e objetos que os seus filhos não usam mais.
Ela percebeu que havia muitas mães empreendedoras que começaram quando foram demitidas no período após a licença maternidade, ou por não conseguirem retornar ao mesmo cargo que ocupavam no mercado de trabalho.
Por esse motivo, ela estabeleceu a primeira regra do grupo: “Sempre indicar uma mãe empreendedora para incentivá-la”.
E, nessa rede de apoio, as mães anunciam seus produtos ou serviços e compram umas das outras.
Dentro do Maternashop, existe o programa Pomar, para desenvolver as mães empreendedoras. Lá, elas podem fazer cursos e serem orientadas por outras mulheres.
Além disso, há um fundo solidário que atua como microcrédito para as mulheres que fazem parte do grupo. Ele tem como objetivo ajudar aquelas que precisam investir em fotos profissionais, capacitações e insumos.
Wakanda Educação Empreendedora
Em 2018, Karine Oliveira criou a Wakanda Educação Empreendedora, no ano de lançamento do filme “Pantera Negra”.
Com sua empresa, ela trabalha para trazer autonomia para empresários negros, que muitas vezes não se veem como empreendedores.
Karine é responsável por traduzir e explicar conteúdos sobre negócios com linguagem popular, incluindo também gírias regionais.
Surgiu da parceria entre duas amigas: Ana Laura Castro, cofundadora, e Vivian Abukater, sócia-diretora. Ambas queriam falar sobre maternidade e trabalho após a gravidez e o nascimento dos filhos.
A Maternativa se tornou um empreendimento social em 2017, deixando de ser uma comunidade no Facebook.
Nesse espaço, as mães compartilham seus desafios profissionais, recebendo apoio umas das outras.
No site Compre das Mães, que faz parte da rede Maternativa, as mães empreendedoras podem se cadastrar gratuitamente e divulgar seus produtos ou serviços.
Referências
https://aventuradeconstruir.org.br/o-fortalecimento-no-protagonismo-da-mulher-empreendedora/ Acesso em 04 de jul. de 2023.
https://cndl.org.br/varejosa/a-maioria-das-empreendedoras-sao-negras-e-vivem-nas-periferias/ Acesso em 04 de jul. de 2023.
https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/noticias/empreendedorismo-feminino-ganha-forca-no-brasil/ Acesso em 04 de jul. de 2023.
https://portal.agromulher.com.br/os-desafios-e-jornadas-de-ser-uma-mae-empreendora/ Acesso em 04 de jul. de 2023.
https://www.minhacontabilidadeonline.com.br/post-blog/como-ser-mae-e-empreendedora-ao-mesmo-tempo/ Acesso em 04 de jul. de 2023.
https://www.al.es.gov.br/Noticia/2022/11/43855/negras-relatam-motivacoes-e-desafios-para-empreender.html Acesso em 05 de jul. de 2023.
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Uau, que incrível! amei!
Que bom Kessia, fico muito feliz em saber que você amou a matéria!
Sou Juliana, professora, empreendedora líder de projeto social.
Para inicial um negócio seu primeiro escolha o que você gosta segundo veja os comentários ruins como críticas construtivas terceiro não tenha medo de erra e não desista.
Que legal Juliana! Obrigada pelo seu comentário e pelas dicas, esperamos que tenha gostado da matéria.