Empreendedorismo

Artesanato e empreendedorismo: Transformando talento em negócio

 

 

O empreendedor é o novo tipo de empresário. Ele está no comando do próprio negócio e gerencia todas as áreas da empresa, como produção, jurídico, vendas, marketing e financeiro. O que diferencia quem empreende é o perfil inovador, sempre buscando referências e aprendendo continuamente para encontrar novas maneiras de produzir e de impactar seus consumidores de forma eficaz. Um empreendedor deve ser curioso e inquieto, sempre objetivando ouvir o seu público e surpreendê-lo positivamente. Trazer uma mentalidade empreendedora para o artesanato envolve o desafio de enxergar a produção artesanal com uma visão de negócios. Quem não consegue fazer essa transição enfrentará dificuldades para precificar, divulgar, negociar e vender seus produtos.

O empreendedorismo artesanal traça uma linha sutil entre o universo da arte e o dos negócios. É onde se encontram os criadores que, além de se dedicarem à sua arte, assumem a responsabilidade de sustentá-la e de compartilhar suas criações com o mundo. Eles não desejam somente colocar sua marca no processo, mas também se realizar e se expressar através dele. 

Seu ato criativo vai além da produção de produtos e serviços; ele permeia todos os aspectos do seu trabalho. É como se, ao moldar o “quê” e “como”, estivesse criando um espaço próprio, um mundo onde sua arte pode existir e florescer. Empreender neste ramo não se resume a fazer o que se ama, assim como não é uma questão de seguir um modelo pré-estabelecido ou encontrar um nicho já pronto para ser explorado. É um caminho que exige constante adaptação, onde o processo de criação é contínuo, marcado por acertos, erros e aprendizados. O empreendedorismo artesanal é, portanto, um espaço de transformação pessoal, onde o fazer e o autodesenvolvimento se entrelaçam. 

A artesã Simone Sena conta como o artesanato entrou na sua vida e o que ele representa para ela: “O artesanato surgiu na minha vida por acaso, em 2016. Sempre gostei de ver vídeos de ‘faça você mesmo’ e um deles, em especial, chamou muito a minha atenção: um mexicano fazendo arte em telhas. Vi que no México esse tipo de arte é bem comum, achei super interessante e imediatamente peguei uma telha de barro que estava para descarte e tentei reproduzir o trabalho. Gostei tanto que comecei a fazer e inventar algumas coisas para presentear familiares e amigos, sempre fazendo peças únicas e personalizadas. Foi quando começaram a surgir encomendas e não parei mais.”

 

Os artesãos utilizam diversas técnicas nos seus trabalhos. Simone, por exemplo, diz que utiliza “tudo que pode ser reaproveitado, como garrafas, plásticos, vidros, pedras, embalagens descartáveis, cápsulas de remédios e de café, cimento, gesso, papietagem, decoupage, fotos e muita criatividade, transformando ítens que seriam lixo em objetos de decoração e arte. Sou formada em design de interiores e através desse conhecimento, resolvi mostrar nas telhas minhas habilidades, fazendo réplicas de casas e outros itens de decoração. Até mesmo dar sugestões de como ganhar espaços nos ambientes.” 

 

O trabalho de um artesão nem sempre é fácil: “Meu maior desafio é transportar minhas peças, que são muito pesadas; como tenho alguns problemas de saúde e limitações físicas, vendo os materiais que não consigo transportar. Outras questões são a divulgação das peças nas redes sociais, assim como a precificação e o envio de encomendas pelo correio de forma que não danifiquem”, destaca Simone. “O artesanato muda a vida das pessoas, já que é uma atividade econômica importante, que gera emprego e renda para muitas famílias, além de trazer mais conhecimento cultural, ambiental, religioso e social, valorizando a cultura de forma criativa. Há quem diga que o artesanato também pode ajudar a reduzir o estresse, a ansiedade e a depressão. Porém no meu caso, senti dificuldade na criação, justamente por causa de uma depressão por doença e luto, que me fez perder todo o dom de criar, e me fez repensar bastante sobre esse tema. A saúde mental é um ítem de muita importância, então nunca uso esse argumento, visto que pra mim não funcionou.”

 

Simone ainda complementa: “Tento compartilhar meus conhecimentos e técnicas com o máximo de pessoas, fazendo oficinas e dando dicas de como conseguir uma renda extra que trará não somente benefícios para as famílias, mas também ocupação para os jovens. Além disso, busco mostrar a importância da reciclagem de forma sustentável, transformando produtos que seriam descartados em arte e renda. Como sempre digo, ‘criatividade é tudo e o meio ambiente agradece’. Então… ‘Deu na telha? Si Personalize!’ Esse é o nome da minha marca.” 

 

A trajetória do empreendedorismo artesanal revela como arte e negócios podem se unir em um processo criativo e desafiador. Ao assumir o controle de suas criações e de sua sustentabilidade, artesãos como Simone Sena transformam o que antes era apenas uma paixão em um meio de vida e de expressão pessoal. O caminho não é fácil, como apontam os desafios de precificação, logística e divulgação, mas a recompensa vem na forma de autonomia e realização.

Além de gerar renda, o artesanato também tem um impacto profundo na sociedade, promovendo a cultura, a sustentabilidade e o desenvolvimento de habilidades. A história de Simone é um exemplo inspirador de como o artesanato pode não só transformar vidas, mas também contribuir para um mundo mais consciente e criativo. Assim, o empreendedorismo artesanal se afirma como um espaço de reinvenção constante, tanto do fazer quanto do ser. Com iniciativas como oficinas e projetos sustentáveis, Simone não apenas cria arte, mas também estimula a conscientização sobre o meio ambiente e a importância da reciclagem, levando adiante o lema de sua marca: “Deu na telha? Si Personalize!”.

 

Pâmela dos Santos

Redatora do Jornal Aborda. Estudante de Jornalismo, com uma paixão imensa por comunicação e livros. Estuda de tudo um pouco, é uma amante de cinema e adora fotografar eventos e pessoas. Um dos maiores objetivos é levar a informação verdadeira ao mundo.

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