Como desenvolver uma relação saudável com a comida
Mulher comendo – Foto: Designed by Freepik
Alimentação é algo indispensável para a sobrevivência humana, mas a sua importância vai muito além da nutrição do corpo. Os alimentos têm a função de nos dar energia, prevenir doenças e até mesmo regular o nosso humor. O ato de sentar-se para comer, fortalece os laços familiares, facilita a convivência social, reforça a identidade cultural e cria experiências positivas que nos acompanharão por toda vida.
Neste contexto, a amamentação surge como um tópico importante a ser discutido. De acordo com o artigo publicado no Boletim Informativo Unimotrisaúde em Sociogerontologia (2019), o aleitamento materno, além de proporcionar imunidade ao recém-nascido, é extremamente importante para criar vínculo entre a mãe e o bebê, a criança se sente segura e amparada no colo materno, o que impactará na sua autoestima. Essa experiência adquirida ainda nos primeiros dias de vida, aumenta a produção de oxitocina que é a substância responsável pela sensação de bem-estar e relaxamento; a saúde da mãe também é beneficiada, essa substância auxilia no retorno do útero ao seu tamanho normal, prevenindo o câncer de mama e de ovário.
Estudos apontam que as crianças que recebem alimentação equilibrada desde os primeiros anos de vida, têm menos chances de adquirirem disfunções alimentares na vida adulta. Vegetais coloridos, de texturas e formas diferentes facilitam o processo de aceitação dos alimentos. O ato de sentar-se à mesa durante as refeições também ensina a compartilhar, a exercitar a autonomia e a descobrir as suas preferências.
Atualmente, a vida moderna tem modificado negativamente os hábitos das famílias. A enorme oferta de produtos industrializados, cheios de corantes e aromatizantes, feitos com muito sódio e ricos em açúcares, associados a uma rotina sedentária, tem contribuído para o aumento da obesidade infantil.
O ganho de peso associado a uma alimentação nutricional pobre como a oferecida pelos fast-foods, cria uma contradição com o estereótipo de corpo perfeito difundido nas redes sociais gerando uma relação de amor e ódio com a comida. Essa dicotomia, traz um enorme conflito aos adolescentes que não conseguem se enquadrar no padrão de corpo e beleza, podendo influenciar no aparecimento de distúrbios alimentares como a anorexia e a bulimia.
Prato e fita métrica – Foto: Designed by Freepik
Quando comer se torna um problema
De acordo com o artigo publicado na revista Cadernos de Psicologia (2022), “transtornos alimentares são síndromes comportamentais de origem e desenvolvimento multifatorial”, seu progresso tem relação com fatores históricos, culturais, familiares, genéticos, biológicos e de personalidade.
Esses distúrbios fazem com que o indivíduo tenha uma relação inadequada com a comida, seja comendo compulsivamente para compensar algum problema psicológico ganhando sobrepeso, abstendo-se de comer por longos períodos ou, até mesmo, podem provocar vômitos propositalmente após ingerirem grandes quantidades de alimentos. Todos esses casos são seguidos de culpa, angústia e grande sofrimento psicológico.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, uma pessoa é considerada obesa quando possui Índice de Massa Corporal maior ou igual a 30 kg/m2. O excesso de gordura pode aumentar a chance de adquirir diversas doenças, como cardiovasculares, diabetes ou hipertensão. Entre as principais causas estão a alimentação desequilibrada e a falta de atividade física. A melhor forma de combater a obesidade, é a reeducação alimentar somada a uma rotina de exercícios físicos. Em alguns casos, um nutricionista pode ajudar a desenvolver uma dieta ideal. Dietas, regimes e jejuns, sem acompanhamento médico, podem ser perigosos e trazer grandes prejuízos à saúde.
A internet e as redes sociais como o Instagram, TikTok, dentre outras e até a própria moda, promovem a divulgação de um padrão de beleza que não condiz com a realidade. Corpos esculturais, muitas vezes desenhados à base de cirurgias plásticas, trazem a ideia distorcida de beleza, o que induz muitos jovens a não aceitarem a sua própria aparência física. Ao mesmo tempo, fórum de discussões em sites sem regulação, incentivam práticas como bulimia e anorexia.
A anorexia é caracterizada como uma aversão à comida. A pessoa come porções cada vez menores de alimento com a intenção de reduzir peso corporal. Muitas vezes, há jejuns prolongados ou total recusa em se alimentar. Se não tratada, a anorexia pode ocasionar anemia, osteoporose, arritmia, infertilidade e desnutrição, podendo levar à morte.
Já a bulimia, costuma ser caracterizada pelo consumo compulsivo de alimentos de forma rápida e descontrolada, seguida de crises de culpa e arrependimento que faz com o indivíduo provoque vômitos, tome laxantes ou faça exercícios de forma exagerada. Essa prática pode causar inchaço das glândulas salivares, ferimentos na garganta pela constante indução de vômito e erosão do aparelho digestivo graças ao retorno do ácido estomacal.
Em todos esses casos, a relação com a comida causa sofrimento psíquico e social, prejudicando a qualidade de vida e a capacidade de se relacionar com as outras pessoas e com o mundo. Por isso, neste mundo hiperconectado, é muito importante estar atento aos sites que os seus filhos acessam e manter um diálogo aberto que fortaleça a autoestima e a autoaceitação.
Família preparando o jantar – Foto: Designed by Freepik
Mens sana in corpore sano
Para garantir um corpo são e uma mente sã, nada melhor do que desenvolver uma relação saudável com os alimentos. É cientificamente comprovado que muitos alimentos podem até mesmo contribuir para prevenção doenças. Os alimentos podem ajudar a reduzir os sintomas da TPM, amenizar as crises de enxaqueca, fortalecer o seu sistema imunológico e melhorar o trato intestinal que interfere diretamente com o nosso bom humor. Por isso, procure incluir no cardápio, frutas e vegetais in natura.
Um artigo publicado na Health Residencies Journal (HRJ) verificou que os alimentos podem, inclusive, auxiliar no tratamento de doenças mentais. O estudo concluiu que a escolha dos alimentos oferecidos aos pacientes nos hospitais pode contribuir para valorização sensorial, trazendo bem-estar e acelerando a recuperação dos pacientes.
Existem algumas dicas que ajudam a se alimentar melhor:
- Tente manter os horários fixos e evite pular refeições;
- Inclua uma fruta ou suco entre o almoço e o jantar para ajudar a saciar a fome;
- Faça mais refeições ao dia, com porções menores de comida;
- Mastigue bem os alimentos, isto ajuda na absorção das vitaminas e aumenta a sensação de saciedade;
- Beba pelo menos 2 litros de água por dia para facilitar a digestão;
- Adote uma dieta saudável, descasque mais e desembrulhe menos;
- Procure consumir frutas e vegetais da época, assim você varia o cardápio e também economiza;
- Consuma frituras, massas e doces com moderação;
- Deixe os alimentos industrializados e fast-foods para datas especiais;
- Substitua o refrigerante por sucos naturais;
- Não coma em frente à televisão, normalmente comemos mais do que o necessário quando fazemos isso;
- Realizar as refeições na mesa com a família ajuda a estreitar os laços afetivos;
- Praticar atividades físicas regularmente, ajuda a evitar o sobrepeso;
- Cozinhar, para quem gosta, também pode ser uma ótima forma de terapia;
- Pedir às crianças para ajudarem a preparar as refeições, é uma forma simples de incentivá-las a conhecer melhor os ingredientes, experimentar novos sabores e participar das atividades familiares.
É importante lembrar que a nossa relação com a comida pode ser simples e muito prazerosa. Comer bem é, antes de tudo, uma forma de respeito com o nosso corpo e de cuidado com aqueles que amamos. Quem não se recorda com carinho do tempero da avó ou aquela receita que só a mãe sabia fazer? Preparar um prato especial ou um jantar romântico, pode criar memórias positivas que levaremos para sempre. Comer não precisa ser um sacrifício, pode ser um pouquinho de amor a cada garfada!