Por Kleber Miranda
Willian chegou ao desfile de lançamento da LAB — marca de Emicida — já como o designer que uniu a comunidade preta de seu bairro através da moda, mas saiu com a consciência de que seria empreendedor.
O paulistano de 28 anos criou sua marca, a AFROPERIFA, após ser inspirado pelo desfile que assistira. Neste empreendimento, todos os colaboradores são moradores de Perus e pretos. Costureiros, designers e modelos, todos imprimem a vivência da periferia em seus trabalhos.
Will, como é conhecido, se identifica como afro-empreendedor, e evidencia que esse aspecto faz seu negócio ir além de uma marca.
“É uma pessoa preta trazendo a economia criativa com a arte preta, com a cultura negra. É muito além de você ir lá e comprar uma camiseta, um produto, você tá ajudando todo um ecossistema que se sustenta”, explica Will.
“Então a partir de quando percebi isso, comecei a usufruir mais dessas artimanhas para poder trazer clientes, para poder ganhar o mercado e falar ‘compre de empreendedores pretos, porque eles carregam uma história, não é um simples produto’”, conclui.
As coleções da AFROPERIFA conquistaram visibilidade ao longo dos oito anos de trabalho, o que alça a marca a colaborações com grandes marcas, e até mesmo a chegar a grandes eventos como The Town e Lollapalooza.
O sucesso da assinatura se estendeu para a Agência Da Afro, uma agência de moda preta criativa, que conecta as pessoas da periferia com grandes marcas, artistas, empreendedores, modelos e profissionais do audiovisual, com objetivo de promover talentos do subúrbio para uma vida além.
“Criar a marca AFROPERIFA e formar um coletivo na favela não foi apenas sobre construir algo material, mas sim um reflexo da minha vivência”, afirma o agora palestrante “Will da Afro”.
Nascido em Perus, Willian foi criado por sua avó no bairro a noroeste da cidade de São Paulo, e conta que houveram adversidades “como todas as quebradas”. Ele destaca a inspiração materna em sua família.
“Eu tenho muito essa referência de mulheres mais velhas, que cuidam. Então toda a minha ancestralidade vem desse cuidado da mulher”, conta Will.
Em 2017, Will da Afro criou o Afronte “Empodere-se”, um coletivo do bairro que reuniu pessoas pretas para abordar identidade e resistência a partir da moda.
“Eu comecei a enxergar quais eram os pontos mais potentes dentro da minha quebrada. Eu percebi que ligando as pessoas pretas, eu ia conseguir trazer algo muito incrível e empoderador”, relembra o designer.
A iniciativa se estabeleceu como, além de artística, política, e fez performances negras sobre questões raciais e do subúrbio, mostrando a realidade do povo preto dentro da periferia.
Na construção da associação, dois formadores da USP foram importantes para trazer a história do preto no Brasil. O geógrafo Marcelo Vitale e a museóloga Thais Avelar reforçaram o coletivo e suas intervenções artísticas.
Com o projeto, muitos foram formados como militantes da arte preta, e Will destaca seu irmão, Wesley MP, um poeta que aos 12 anos lançou um livro intitulado Poesia Corre em Minhas Veias, sobre a situação do preto no Brasil.
Hoje, Wesley cursa história na USP e estuda produção audiovisual, sendo considerado por Will da Afro “um case de sucesso de toda essa trajetória de trabalho.”
O Afronte “Empodere-se” atuou ativamente por três anos e atualmente está em hiato.
“O coletivo foi fundamental nessa construção, de entender que a moda era o caminho que a gente poderia usar como uma arma muito potente contra o racismo, a opressão, as segregações e contra todos os problemas sociais”, explica Will.
Além da inspiração em Emicida para empreender, a avó foi a grande influência de Willian. Foi quem lhe ensinou seus valores e o ajudou a “enxergar o mundo com mais leveza e detalhe, com uma visão menos machista e mais livre”.
Will reforça que seu principal objetivo é levar seu trabalho para o povo preto e periférico, mas também para todos que entendem as questões raciais.
“Pessoas brancas que entendem que, talvez, na questão de usar um turbante, seja uma apropriação cultural, mas que podem usar uma camiseta com o logo da AFROPERIFA, de marca preta, numa modelagem urbana, brasileira. Então, pessoas brancas também compram, e tem essa característica da luta antirracista”, explica Will da Afro.
O designer vê a periferia como além de seu ponto de trabalho, o seu espaço de resistência, de conexão com suas raízes. Sua relação com a favela se transformou em representatividade, em dar visibilidade à cultura e arte periférica sem perder a essência de quem são.
“Para mim, Perus não é só um local geográfico, é o ponto de partida e o sustento de tudo que eu crio e que continuo a construir”, manifesta Will.
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