A precarização do trabalho e saúde mental nas periferias

Informalidade e falta de políticas públicas empurram moradores das periferias a um adoecimento silencioso
Por Mirella Pontes
Um relatório divulgado pela ONU em 2024, com título “A economia do burnout: pobreza e saúde mental”, revelou que pessoas em situação de pobreza têm três vezes mais chances de desenvolver transtornos mentais como ansiedade e depressão. O documento escancara como a desigualdade social e a insegurança financeira são gatilhos diretos para o adoecimento psíquico. No Brasil, país com uma das maiores desigualdades sociais do mundo, a precarização do trabalho é um dos principais fatores desse adoecimento.
Apesar da taxa de desemprego ter atingido o menor índice desde 2012, o avanço da informalidade e a substituição de vagas CLT por contratos de Pessoa Jurídica criaram um exército de trabalhadores sem a segurança de direitos básicos. Férias remuneradas, décimo terceiro, licença médica e o direito à aposentadoria se tornaram artigos de luxo.
Essa realidade impõe uma rotina de baixa remuneração e alta instabilidade, onde a preocupação em garantir o sustento no fim do mês gera um estado de alerta constante. A pressão por produtividade, somada à ausência de vínculos empregatícios seguros, alimenta um ciclo de estresse crônico que é terreno fértil para o esgotamento e o desenvolvimento de transtornos de ansiedade e depressão.
Nas periferias esse cenário é ainda mais agravado. Longos deslocamentos em transporte público lotado, violência urbana, problemas financeiros de moradia e falta de acesso a serviços de saúde e lazer tornam o estresse quase constante, limitando as oportunidades de alívio emocional.
A relação entre a precarização do trabalho e o adoecimento mental nas periferias é direta e devastadora, sendo consequência de um sistema que nega direitos e impõe uma carga desumana sobre quem já enfrenta inúmeras outras batalhas diárias.
É nesse contexto que iniciativas como o Projeto Base se tornam essenciais e um respiro para a periferia. O projeto oferece atendimento psicológico, promove educação com cursos, oficinas e mentorias, nas comunidades de Osasco, contribuindo para minimizar os impactos da desigualdade social. Para além de campanhas pontuais, ações como a do Projeto Base criam bases estruturais, que levam em conta o dia a dia complexo da periferia, para transformar realidades e oferecer perspectivas reais de novas oportunidades e bem-estar.
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