Maternidade, a doce arte de padecer no paraíso

 Maternidade, a doce arte de padecer no paraíso

Foto: Designed by Freepik

Muito se fala das dádivas da maternidade, e certamente todas elas são verdadeiras. Entretanto, os desafios que surgem com essa missão ainda são pouco discutidos. É preciso desmistificar as ideias pré-concebidas sobre a maternidade e colocar pauta temas importantes sobre a saúde da mulher e autocuidado.

Os trabalhos de Hércules

Ser mãe é antes de tudo um trabalho duro, em tempo integral, sem direito a férias ou pausa para o almoço. Uma missão que requer doses imensuráveis de paciência, dedicação, desprendimento, força e principalmente jogo de cintura. É necessário ter diplomacia, saber gerenciar recursos e acima de tudo “ser multitarefas”.

Habilidades extraordinárias

Elas exercem o papel de cuidadora, professora, psicóloga, médica e muito mais. Executam tarefas quase impossíveis como identificar choros de bebês, compreender silêncios, antecipar-se aos perigos, e prever o clima, lembrando de levar blusa de frio ou guarda-chuvas. Atividades que são executadas diariamente e normalmente não são reconhecidas. Não é de se estranhar que toda essa cobrança cause desgastes à saúde física e mental!

Desmistificando os mitos

Estamos tão acostumados a vê-las sempre exaustas, agitadas, preocupadas ou sem dormir, que não percebemos é que estas características, podem ser sinal de doenças importantes como depressão, ansiedade e até mesmo burnout. É preciso desmistificar a ideia de que as mães possuem poderes sobre-humanos e deixar claro que viver constantemente nervosa e exausta não é algo normal. A total falta de informação sobre esse tema, faz com que as mulheres não procurem ajuda ou acompanhamento médico. Esteja atento aos sinais de alerta.

Depressão durante a gestação

A gestação não é um período fácil, mudanças físicas e hormonais trazem impacto direto na sensibilidade das mulheres. Contudo, tristeza persistente, nervosismo, cansaço excessivo e indisposição durante os meses de gestação não devem ser ignorados. De acordo com uma pesquisa publicada no ano de 2022, na Revista Eletrônica Acervo Médico cerca de 20% das mulheres durante a gravidez ou após o parto, apresentam quadros de depressão pós-parto. Nos casos de mães adolescentes e solteiras, os índices podem aumentar para 26%. Vale lembrar que os casos mais complicados, resultam em ansiedade grave e ataques de pânico, deram seus primeiros sinais ainda durante a gravidez. Por isso, é importante realizar o pré-natal corretamente e informar o médico sobre alterações de humor.

Depressão pós-parto

Ao contrário do que se imagina, a depressão pós-parto acontece tanto na gravidez planejada como na indesejada. Pode ocorrer em qualquer uma das gestações, seja do primeiro ou do último filho. Atinge tanto as mulheres que trabalham fora, como aquelas que se dedicam exclusivamente ao lar. De acordo com as pesquisas, a doença atinge mulheres de quaisquer idades, etnias, escolaridade ou classes sociais. Entretanto, seus sintomas costumam passar despercebidos durante os altos e baixos causados pela chegada do novo bebê.

Ansiedade na maternidade

A ansiedade é uma cruel companheira em todas as fases da maternidade. Muitos desses casos clínicos, devem-se ao acúmulo de tarefas, dupla jornada das mães e falta de apoio de seus parceiros. Em relação a ansiedade pós-parto um estudo publicado na Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil (2022), concluiu que 68,4% das mães apresentaram grau mínimo, 21,6% ansiedade leve, 7,6% ansiedade moderada e 2,4% ansiedade severa. As mudanças na rotina da família, questões financeiras, emocionais e sociais somadas a transformação hormonal ajudam a acentuar o problema. Mães solo ou primeira viagem costumam se sentir perdidas neste período, e precisam de uma rede de apoio para enfrentar esse momento de tanta mudança.

Burnout Pesquisadores da Universidade Federal de Campina Grande, em uma pesquisa divulgada pela Revista de Saúde Coletiva (2022) constatou-se que os principais sintomas de burnout em mães são causadas pela sobrecarga de trabalho e cobrança pela maternidade ideal, que apresentam em forma de sintomas como cansaço, dor de cabeça, exaustão física, ansiedade e vergonha. Vale lembrar que esses fatores implicam negativamente na qualidade de vida de mães e filhos. Por isso, é tão importante procurar ajuda médica.

Construindo uma nova jornada

Para evitar que a tarefa divina de trazer um novo ser ao mundo, se torne um completo pesadelo, é necessário estar atento aos sinais e não se sentir constrangida por não conseguir dar conta de tudo.

A palavra de ordem é “pedir ajuda”, tanto ajuda médica para os casos mais complicados, como pedir ajuda aos demais integrantes da família para que a sobrecarga de atividades seja distribuída de forma igualitária.

Além disso, pequenos hábitos diários de autocuidado tendem a melhorar a qualidade de vida e trazer bem-estar.  Separar alguns minutos do dia para cuidar de si mesma eleva a autoestima. É importante tentar manter uma rotina saudável, com horas regulares de sono e alimentação balanceada. Praticar algum exercício físico também traz benefícios ao corpo e a mente.

É claro que esta não é uma missão fácil, pois a autocobrança e a pressão da sociedade esperam que elas coloquem o bem-estar dos filhos sempre em primeiro lugar. Contudo, não há nada de errado em deixar uma louça sem lavar, ou adiar alguma atividade menos importante, para poder descansar e ter um tempo para se dedicar a alguma atividade, ou robe, que lhe dê prazer.

Afinal, mães mais saudáveis resultam em crianças mais felizes!

Jornal Aborda

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