Osasco em cores: onde a arte floresce nas bordas

Fonte: canva.com
Por Ellen L. Pedrosa
Bem mais do que apenas pinturas, peças teatrais e músicas jogadas ao público, a arte serve para trazer representação, fortalecer pautas, criar diálogos, e promover o protagonismo de minorias.
Mais do que simples ferramentas de transformação, esses diferentes movimentos artísticos são símbolos de resistência. Mesmo nos momentos mais sombrios da humanidade, ela permaneceu, deu um jeito de aparecer, de se mostrar ao mundo por meio de brechas, florescendo a luz de um novo dia. A arte sempre sobreviveu, inclusive à ditadura.
A Arte na Perifieria de Osasco
Na periferia de Osasco, a arte se tornou uma força vital, tão importante e necessária quanto a saúde e a educação, servindo de reflexo da realidade e dos sonhos da população. Essa força ganha forma nas ruas, nos muros pintados e coloridos de artistas como Dingos Del Barco provocam os moradores a refletirem sobre temas de impacto social tais como cultura, meio ambiente e inclusão.
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Nos palcos e na rua, atores e atrizes ganham forma e dão voz a temas e histórias que por anos e anos foram silenciadas. Mesmo ainda rodeado de preconceitos, o teatro e cinema periférico continuam em sua luta constante para levar valor e relevância para áreas marginalizadas, que muitas vezes são esquecidas ou escondidas da vista do público.
Espaços culturais como a Fábrica de Cultura de Osasco surgiram com o objetivo de proporcionar capacitação gratuita para jovens em situação de vulnerabilidade. Hoje em dia, a Fábrica conta com espaços tais como a biblioteca, oficinas, laboratórios e salas de ensaio/apresentações, além de programas culturais como apresentações teatrais e musicais, exposições e rodas de leitura.
Movimentos como o projeto Escadão Cultural na Quebrada, que tem o intuito de reunir diversos artistas para transformar as ruas da periferia através do grafite, também surgiram como iniciativas importantes que visam trazer cor e alegria para a vida dos moradores.
Trazer a arte para as ruas é bem mais do que apenas tirar uma restrição imposta de que ela deveria se limitar a ambientes como museus e galerias, é trazer acessibilidade e desafiar limites. É mostrar que todos têm direito de se expressar e de consumir cultura.
Vitor Amati fala da arte em sua vida
Para Vitor Amati, diretor de cinema e de fotografia, a arte não foi uma escolha consciente: “Nunca pensei em ‘ser artista’, até porque comecei muito jovem a me interessar por tudo que era forma de arte. A impressão mais sincera é que fui escolhido pela arte.” Segundo ele, a arte o salvou quando ela apareceu em seu caminho, trazendo direcionamento e suporte para explorar novas possibilidades, expressar seus sentimentos e visões de mundo.
Vitor acredita que, mesmo essa sendo uma visão mais utópica do mundo, a arte deveria sim dialogar com todas as classes sociais, níveis culturais e regionais. A arte deveria ser a forma de se comunicar universalmente, sem fronteiras ou barreiras sociais. Para ele, a arte possui um papel fundamental na construção de identidades: “A demonstração de ‘quem és’ através da arte, faz o espectador refletir sobre si, seu meio, seu próximo, sua sociedade.”
Arte como forma de resistência
Em Osasco, a arte não é luxo nem apenas distração: é sobrevivência. É o que dá fôlego a quem enfrenta o esquecimento e o descaso. E enquanto houver alguém disposto a cantar, pintar ou encenar nas quebradas, a cidade vai continuar pulsando, colorida, barulhenta e viva.
Mais do que o que nos move, ela é o que torna a vida suportável, e também proveitosa. Um mundo sem arte não parece um lugar promissor ou acolhedor. É por isso que ela está em toda parte, sempre se espalhando cada vez mais por becos e vielas. Ela está nos muros do Rochdale, no slam da Vila Yara, na pintura que transforma uma viela em galeria a céu aberto.
A arte segue viva nas ruas de Osasco, nas batidas do funk que ecoam nos becos, no grafite que colore os muros, no teatro improvisado na praça. É ali, entre o concreto e o sonho, que ela cumpre seu papel mais bonito: o de lembrar que as bordas estão sempre florescendo.
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