Associação Santa Terezinha e sua contribuição em Carapicuíba

 Associação Santa Terezinha e sua contribuição em Carapicuíba

Fonte: https://gazetadasemana.com.br/noticia/130271/total-express-promove-acao-de-voluntariado-em-comemoracao-ao-centenario-da-associacao-santa-terezinha-em-carapicuiba

Por Kamila Moraes

No município de Carapicuíba, a Associação Santa Terezinha, que tem como objetivo promover ações voltadas à solidariedade e uma formação integral, representa mais do que uma instituição, é um pedaço vivo e constante na história da cidade.

 

Criada em um período marcado por desafios e preconceitos, quando atendia pessoas com hanseníase, a Associação transformou-se ao longo dos anos e hoje é reconhecida como uma organização sem fins lucrativos dedicada à educação e à assistência social.

 

Para compreender melhor essa trajetória e seu impacto, o Jornal Aborda conversou com Patricia Vidal, ex-funcionária que participou dessa caminhada e guarda lembranças de um tempo em que o trabalho era mais do que uma função: era um verdadeiro ato de amor ao próximo.

 

Jornal Aborda: O que te motivou a trabalhar nesta organização?

Patricia Vidal: Fui à entrevista acreditando que a vaga era para trabalhar em uma creche, já que eu tinha experiência nessa área. Mas, entre as 15 candidatas, fui selecionada para uma das duas vagas disponíveis e acreditei que havia um propósito para eu estar ali.

 

JA: Como foi o seu primeiro dia de trabalho? O que mais te marcou?

PV: Foi um dia difícil. Encontrei um grupo de crianças que me viam como uma estranha. Elas me testavam o tempo todo e, sem experiência, confesso que tive vontade de sair correndo.

 

JA: Como era a rotina das crianças e adolescentes atendidos?

PV: Era uma rotina parecida com a de uma casa com muitos moradores: havia regras, horários para higiene pessoal, refeições, compromissos escolares e cuidados com a saúde.

 

JA: Houve alguma experiência que mudou sua forma de ver a educação?

PV: Sim, várias. Cada situação me fez repensar minha postura e minha maneira de enxergar a educação, tanto no aspecto humano quanto no pedagógico.

 

JA: Quais foram os maiores desafios enfrentados nesse trabalho?

PV: Foram muitos, tanto no cuidado direto com as crianças quanto na coordenação do espaço e no convívio com os adultos. Mas um dos mais difíceis foi aprender a lidar com os momentos entre os atendidos e nós enquanto funcionários, entendendo que, muitas vezes, eles apenas extravasavam suas dores e frustrações.

 

JA: Em momentos difíceis, o que te ajudava a manter o ânimo e continuar?

PV: O vínculo construído com as crianças. Eu já os considerava minha segunda família, e isso me fortalecia.

 

JA: Você vê a falta de apoio público às instituições sociais como um problema?

PV: Sim. Falta preparo e formação continuada para os profissionais que atuam nesses espaços. É essencial que os cuidadores compreendam os traumas e dificuldades dessas crianças e adolescentes, com empatia, orientação técnica e apoio psicológico, para saber agir em momentos de crise.

 

JA: Quais tipos de preconceito você chegou a vivenciar?

PV: Infelizmente, vivenciei vários tipos e os mais recorrentes foram o racismo e a homofobia.

 

JA: A periferia e a família influenciam nos problemas enfrentados pelos jovens?

PV: Acredito que a periferia, por si só, não define o caráter ou o comportamento de ninguém. O que realmente influencia são as famílias desestruturadas e a negligência, que deixam marcas profundas.

 

JA: Você já presenciou algum caso de sucesso?

PV: Sim! Lembro de uma adolescente que concluiu os estudos, conseguiu um emprego e, ao completar 18 anos, alugou uma casa e passou a viver de forma independente. Foi uma grande conquista!

 

JA: Algum colega de trabalho fez algo que te marcou?

PV: Sim, alguns colegas demonstraram grande sensibilidade e dedicação, indo muito além de suas funções para garantir o bem-estar das crianças e adolescentes. Essas atitudes me inspiraram profundamente.

 

JA: A escola consegue acolher bem quem vem de contextos vulneráveis?

PV: Acredito que esse deve ser um dos papéis centrais da escola. Educadores e demais profissionais precisam estar preparados para acolher e compreender as diferentes realidades dos alunos.

 

JA: Quais são seus conselhos para quem vivencia situações de abuso?

PV: Acolher e ouvir a vítima, sem julgamentos, e buscar ajuda de profissionais e autoridades competentes. O apoio é fundamental.

 

JA: E para quem presencia um colega ou amigo nessa situação?

PV: Acolher, ouvir e se colocar à disposição, oferecendo apoio e segurança para que a pessoa se sinta à vontade para falar e pedir ajuda.

 

Ao relembrar suas vivências na Associação Santa Terezinha, Patricia Vidal, em entrevista especial ao Jornal Aborda, nos faz perceber que o verdadeiro valor dessa história está nas pessoas que dedicaram tempo, cuidado e afeto a quem mais precisava.

 

Cada lembrança compartilhada é um retrato da força humana que moveu e ainda move a luta pela educação em Carapicuíba. Que essas memórias inspirem novas gerações a continuarem escrevendo, com o mesmo carinho e dedicação, os próximos capítulos dessa linda trajetória.

Conheça a Associação Santa Terezinha

 

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Ana Carolina Bernardes

Apaixonada por linguagem e textos. Só a palavra pode nos levar aonde queremos chegar. Revisora freelancer e redatora do Jornal A Borda.

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