Partidos e Periferias: o desafio de renovar a política em Osasco

Imagem criada por inteligência artificial.
Por: Nahiana Marano
Enquanto os partidos se reorganizam para as próximas eleições, as periferias de Osasco seguem à margem das grandes decisões partidárias. Ironicamente, é justamente nesses bairros que pode estar a chave para a renovação da política local.
Nas ruas de Osasco, onde o som das feiras se mistura ao burburinho do comércio, o tema “política” costuma despertar um certo cansaço. Muitos moradores das bordas da cidade associam os partidos às velhas promessas que nunca se cumprem. Mesmo assim, é exatamente nesses territórios que a política — a do “P” maiúsculo — insiste em se reinventar, muitas vezes de forma silenciosa e invisível.
O peso do eleitorado e a ironia da filiação
Os dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) mostram que Osasco possui um eleitorado robusto: 592.559 pessoas aptas a votar. Esse número coloca o município entre os maiores colégios eleitorais da Grande São Paulo, com influência direta nas disputas estadual e nacional.
No entanto, aqui está a ironia: o número de filiados a partidos é baixo. Isso expõe um dilema — como representar uma população tão grande que, em sua maioria, não se sente parte da estrutura partidária?
Entre o descrédito e o desejo de mudança
Os diretórios municipais enfrentam dificuldades reais para atrair novos filiados, especialmente entre os jovens e os moradores das periferias, como o Jardim Conceição, o Rochdale e o Helena Maria.
Pesquisas do Observatório das Metrópoles (Núcleo São Paulo) indicam que o engajamento político tem migrado dos partidos tradicionais para os movimentos sociais. Coletivos culturais, grupos ambientais e organizações comunitárias, mesmo sem legenda, assumem papéis políticos decisivos.
Essa mudança aparece no dia a dia da cidade. Jovens têm se envolvido em mutirões de limpeza, projetos de agroecologia urbana e ações de educação popular. Na prática, esses grupos funcionam como escolas de cidadania, moldando novas lideranças conectadas com o território e menos dependentes das velhas estruturas partidárias.
Partidos locais correndo contra o tempo
Enquanto isso, as legendas tradicionais tentam reagir. PT, PSOL e PSD promovem plenárias e encontros abertos para ampliar a militância. Já o PL e o Republicanos apostam na aproximação com igrejas e setores do comércio popular.
Apesar dos esforços, a renovação de quadros segue lenta. Pesquisas acadêmicas mostram que os partidos brasileiros costumam concentrar suas estruturas nas capitais, tratando as periferias apenas como campo de mobilização eleitoral — e não como espaço de formação política contínua.
Essa distância se reflete no cotidiano: muitos moradores só ouvem falar em partidos durante as campanhas.
A voz das bordas e o desafio da efetividade
Nos últimos anos, surgiram tentativas de mudar esse cenário. Alguns diretórios locais têm buscado diálogo com coletivos periféricos para discutir temas como juventude, mobilidade e gênero. O desafio, porém, é transformar conversas pontuais em participação permanente — algo que ainda avança devagar.
Iniciativas como o Conselho Municipal da Juventude de Osasco mostram uma abertura institucional para o diálogo, mas ainda faltam canais efetivos de escuta e decisão.
O Atlas das Juventudes (2021) revela que muitos jovens se interessam por política, mas poucos participam ativamente. Já o TSE (2023) mostra que apenas 1% das pessoas com até 24 anos estão filiadas a partidos — cerca de 170 mil em todo o país. Um ano após as eleições de 2022, esse número caiu 14%, evidenciando que o engajamento nas urnas nem sempre se transforma em participação contínua.
O futuro político começa fora do gabinete
A renovação política de Osasco pode estar nas feiras, nos cursinhos populares e nas ocupações culturais — lugares onde se aprende a organizar, negociar e reivindicar.
Assim, a cidade vive uma contradição evidente: de um lado, partidos envelhecidos e centralizados; de outro, periferias vibrantes e cheias de energia cívica, mas ainda sem espaço institucional.
O desafio para os próximos anos será conectar esses dois mundos. Se os partidos abrirem espaço para o diálogo e renovarem suas práticas internas, poderão encontrar nas bordas da cidade o impulso que lhes falta para se reinventar.
Afinal, é ali — entre o concreto e o improviso — que a política mais autêntica e necessária ainda floresce.
Referências
- Atlas das Juventudes (2021). Disponível em: https://atlasdasjuventudes.com.br
- Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dados de filiação partidária, 2023.
- OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES – NÚCLEO SÃO PAULO. [Linha de pesquisa: Metrópole e a questão urbana]. Disponível em: https://observatoriodasmetropoles.net.br/.
- TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Dados de filiação partidária revelam baixa participação política de jovens e mulheres. Comunicação – Notícias. [S.l.: s.n.], 13 nov. 2023. Disponível em: https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2023/Novembro/dados-de-filiacao-partidaria-revelam-baixa-participacao-politica-de-jovens-e-mulheres.