Arte que educa, cultura que empreende

Arte-educador e curador, Dingos Del Barco alia cultura hip-hop, economia criativa e impacto social no grafite
Na interseção entre arte, educação e empreendedorismo, o arte-educador e curador Dingos Del Barco transforma sua trajetória em um exemplo de como a economia criativa gera impacto cultural e social. Atuando como artista e ativista, ele alia décadas de experiência no grafite à gestão de projetos coletivos, utilizando a linguagem urbana como ferramenta de inclusão, formação de novos talentos e desenvolvimento comunitário.
Desafios de educar a juventude conectada
O trabalho com arte e educação sempre foi um grande desafio. Em algumas experiências, Dingos permaneceu de cinco a oito anos com a mesma turma, criando vínculos e metodologias para garantir a continuidade do processo. Hoje, porém, atua em projetos mais curtos, o que exige novas linguagens para dialogar com jovens conectados ao universo digital e influenciados por redes sociais e diferentes manifestações culturais.
Segundo o educador, a juventude mudou. Antes, os temas mais presentes eram violência e questões ligadas à periferia; agora surgem debates sobre gênero, religião e outras pautas sociais. Muitas vezes, até a participação em atividades como grafite ou dança de rua é limitada pela família, exigindo sensibilidade para encontrar caminhos de inclusão.
Grafite; entre expressão e responsabilidade
Dingos também busca conduzir os alunos para reflexão sobre a responsabilidade de quem escolhe o grafite como forma de expressão. Apesar de reconhecida como linguagem artística, em muitos lugares a prática sem autorização ainda é enquadrada como crime ambiental ou vandalismo. Ele mostra diferentes formas de ocupar a cidade, inclusive por meio de projetos oficiais que transformam muros em espaços de arte e cultura.
Primeiros contatos e inspiração
O primeiro contato de Dingos com a arte do grafite surgiu ainda na juventude, pelas ruas do Jardim Piratininga, em Osasco. Influenciado pelo pichador Red, que lhe apresentou a lata de spray, começou a se expressar nos muros da cidade pela pichação.
Ainda cedo, percebeu que a prática não era bem aceita, mas manteve-se fiel ao ofício, especialmente nos muros da Escola Walter Negrelli. Foi na mesma escola que, em 1991, um concurso de arte urbana transformou sua trajetória: ao produzir uma redação que seria transformada em imagem sobre a “seca do Nordeste”, Dingos conquistou a primeira colocação, marcando seu início oficial na arte.
Coletivo e primeiras experiências
Incentivado pela diretora da escola, Dingos e colegas formaram um coletivo de artistas que, mesmo sem registro formal, conquistou uma sede e participou de eventos importantes, como as comemorações dos 100 anos da Avenida Paulista e a inauguração do túnel Ayrton Senna, conectando-se a nomes influentes da cena paulistana.
A libertação com o spray
Nessas experiências, o aprendizado foi intenso. Com estêncil e máscaras, o grupo conheceu diferentes técnicas, como o desenho à mão livre dos Gêmeos, fortalecendo a transição da pichação para o grafite. “Para mim foi uma libertação quando usei o spray pela primeira vez”, relembra Dingos.
Naquele período, conciliava o trabalho como office boy com as pinturas aos finais de semana. Em 1995, integrou o grupo Dingos, formado por 12 artistas, mas dois anos depois seguiu carreira solo.
Estilo e influências do hip-hop
Na pichação, adotava letras de forma e personalizava o ponto do “J.” com símbolos variados, como dos X-Men, criando uma marca própria. Mais tarde, ao escrever “Dingles”, desenvolveu um personagem a partir das letras, usando cores, degradês e formas que se transformavam em rosto e corpo.
Após dez anos nas ruas, entre 2001 e 2003, nasceu o estilo simplesmente urbano, criado em uma experiência no muro de casa. Letras, personagens, robôs e pássaros ganharam forma, transitando entre o figurativo e o abstrato. A desconstrução resultou em composições feitas apenas de linhas e cores, sempre com tons quentes e contornos em preto. A evolução foi orgânica, fruto da prática contínua e marcada pela busca constante de experimentação.
Em 2006, criou a exposição Expoarte Skate, projeto que unia a “velha escola” e a “nova escola” do grafite. A iniciativa reuniu skates pintados à mão por artistas do Brasil e da América Latina e circulou por lojas, faculdades e espaços culturais, fortalecendo a difusão do grafite em diferentes contextos.
Militante do hip-hop desde os anos 2000, tornou-se atuante em nível nacional, com viagens que ampliaram conexões, como em Porto Velho, Rondônia, onde conheceu o chamado “hip-hop da floresta”. Embora não se defina como um artista crítico, produziu obras de protesto, como durante o primeiro mandato de Donald Trump, abordando imigração. No entanto, sua produção consolidou-se em personagens e linhas coloridas, conectando cores e formas à relação com a cidade e as pessoas, mais do que a discursos políticos.
Música como combustível
Nos anos 1990, apresentou ao lado do DJ Shaman o programa Reggae Sons Splash, onde conheceu o primeiro disco d’O Rappa. As letras de Marcelo Yuka marcaram profundamente sua formação, trazendo consciência social e ampliando horizontes.
Arte, política e cidadania
Dingos passou a atuar em parceria com o poder público, inicialmente em Osasco, com Celso Giglio. Transformou a experiência das ruas em oficinas e ações de cidadania, investindo em cursos técnicos e projetos com ONGs e o terceiro setor.
Mesmo tendo pintado em regiões centrais, escolheu dedicar-se às bordas da cidade. “Vivo da minha arte e isso alimenta minha alma”, declara. Para ele, a arte é espaço de reflexão e afirmação da existência, um meio de sonhar, colorir e propagar cultura de paz.
Novas conexões
Atualmente, Dingos atua em uma agência que desenvolve projetos viabilizados por leis de incentivo, como a Rouanet e o ProAC. Retomou suas origens ao levar oficinas de grafite para jovens da Escola Walter Negrelli e da Escola Paulo Freire, em Osasco. As atividades resultaram em murais coletivos que abordaram desde experimentação artística até a valorização de personalidades negras.
Exerce também curadoria de um projeto em Sumaré, que reúne 30 artistas de diferentes regiões do país e culminará em um festival nos dias 26 e 27 de setembro. Paralelamente, desenvolve ações em comunidades de São Paulo. No Jaguaré, conduz oficinas com 25 crianças do CCA Bom Jesus, transformando “lixo em luxo” por meio de maquetes que retratam o bairro e reforçam a importância da reciclagem. No Morro Doce, atua no Centro Santa Fé com o projeto Novas Conexões, utilizando papelão para colagens, grafite e exposições coletivas.
5 Comments
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