Osasco é realmente uma das cidades mais seguras?

Por Fernanda Matos
Nos últimos anos, Osasco tem aparecido com destaque em estudos sobre segurança pública. Segundo o Anuário 2024 de Cidades Mais Seguras do Brasil, elaborado pela startup MySide, a cidade foi classificada como a terceira mais segura do país entre os municípios de médio porte (com população entre 500 mil e 1 milhão de habitantes). O levantamento apontou uma taxa de 8,9 homicídios por 100 mil habitantes em 2023, utilizando dados do Ministério da Saúde e do IBGE.
À primeira vista, a informação pode soar positiva, em comparação com a capital de São Paulo, cuja taxa de homicídios em 2023 girou em torno de 10,2 por 100 mil habitantes. Osasco aparece numericamente mais segura. Além disso, indicadores locais mostram quedas expressivas em crimes violentos. Entre 2019 e 2022, os homicídios dolosos caíram 29% e os estupros 34%, segundo dados divulgados pela Câmara Municipal com base em relatórios do 14º Batalhão da Polícia Militar.
Por trás dos números
Apesar dos indicadores animadores, especialistas em segurança pública lembram que estatísticas de homicídios não contam toda a história. Crimes como furtos, assaltos, violência doméstica e desigualdade territorial no policiamento seguem sendo problemas crônicos. A mesma lógica vale para a capital paulista: enquanto bairros ricos como Jardins e Moema exibem índices de criminalidade próximos a padrões europeus, regiões periféricas da Zona Leste e Sul enfrentam violência muito maior que a média da cidade.
Em Osasco, a realidade não é diferente. A cidade ainda sofre com altos índices de precariedade habitacional, concentração de renda e informalidade no trabalho. “A sensação de segurança” não pode ser medida apenas pela queda em homicídios, mas sim pelo acesso universal à moradia digna, transporte público de qualidade, saúde e educação. Nesse sentido, a comparação com São Paulo expõe um quadro estrutural: ambas as cidades podem comemorar quedas estatísticas, mas continuam reproduzindo desigualdades que afetam principalmente a população trabalhadora e periférica.
Segurança pública ou política de vitrine?
Governos municipais frequentemente celebram rankings e números como se fossem conquistas isoladas de suas administrações. No entanto, sem políticas sociais robustas, os índices se tornam mais propaganda que transformação estrutural. É válido questionar: a segurança em Osasco, assim como em São Paulo, é fruto de políticas preventivas e sociais, ou apenas do endurecimento policial e da estatística que desconsidera a vida cotidiana nas periferias?
A cidade de Osasco pode, sim, estar entre as mais seguras em termos de homicídios. Mas, para além dos números, o debate sobre segurança precisa incluir direitos sociais, combate às desigualdades e fortalecimento das comunidades locais, pontos essenciais para que a sensação de segurança não seja privilégio de poucos, mas realidade de todos.
Fontes: [Osasco.sp.gov.br]. [Câmara Municipal de Osasco].