LGBTQIAP+ reinventam negócios e fortalecem redes de apoio em Osasco

Freepik — “Vector illustration of LGBTQ group of people with rainbow background”
Por: Nahiana Marano
Na periferia de Osasco, pessoas LGBTQIAP+ transformam o empreendedorismo em ferramenta de autonomia, redes de apoio e afirmação de identidade.
Nas periferias, empreender é mais do que uma alternativa de renda — é um ato de afirmação e resistência. Em Osasco, pessoas LGBTQIAP+ têm encontrado no próprio negócio uma forma de existir, criar redes de cuidado e desafiar estigmas. Elas transformam a criatividade em potência e a periferia em território de inovação.
“Segura a onda e dá na cara!”
Patrici, do Chun Dreads, é trancista e dreadmaker desde 2016. Atende a domicílio e, mesmo sem estrutura física, conquistou trabalhos importantes — como para a Dove e para o clipe da cantora Tássia Reis. “Empreender na quebrada é começar com quase nada”, resume. Não-binárie e pansexual, Patrici fez do seu atendimento um espaço seguro e de acolhimento para pessoas trans e LGBTQIAP+. E não foi por acaso: muitas vezes, clientes a procuram justamente por saberem que serão respeitades e compreendides. Por isso, o negócio carrega não apenas um serviço estético, mas também uma mensagem de pertencimento e resistência.
Cultura como negócio e utopia
Já para Okan Deko, o ativismo político e a cultura caminham lado a lado. Produtor cultural e líder social, Okan começou articulando eventos e projetos que conectam diversidade e comunidade. Com o tempo, percebeu que poderia transformar essa atuação também em negócio, sem abrir mão do propósito social. “Minha identidade atravessa tudo o que faço”, afirma. É por isso que ele mantém parcerias diversas, cria ambientes acolhedores e transforma invisibilidade em visibilidade. Okan quer ir além: “Expandir o impacto, criar redes de formação e usar tecnologia para contar histórias da periferia LGBTQIAP+”.
Moda que colore resistência
Adan Costa, da Dogstyle, também trilhou o caminho do empreendedorismo para garantir autonomia. Ele rejeitou o emprego formal para viver como artista independente e criar uma marca de upcycling que transforma roupas usadas em peças únicas. Embora não enfrente preconceito direto no seu público, sente os olhares julgadores fora dele. Porém, encontrou força na rede de artistas da quebrada, que compartilham o mesmo corre e organizam eventos para dar visibilidade a trabalhos independentes. Para Adan, esse apoio é combustível: “A gente vende o que a gente acredita, e é assim que os outros acreditam também”.
Mais que sobrevivência, afirmação
Ainda que o acesso a empregos formais seja limitado para pessoas LGBTQIAP+ — apenas 1 pessoa a cada 4 consegue emprego com carteira assinada, especialmente nas periferias —, o empreendedorismo se mostra como caminho viável de autonomia. Logo, empreender é uma forma de afirmar identidades e criar espaços seguros, onde as experiências de vida não precisam ser escondidas.
Segundo levantamento do Sebrae, mais da metade da população LGBTQIAP+ no Brasil já empreende ou planeja empreender. E, nas quebradas, esse movimento é também resistência: ocupar espaços, transformar histórias e gerar renda onde antes só havia ausência de políticas públicas.
Resistir é empreender
Para Patrici, resistir é oferecer cuidado e representatividade. Para Okan, é criar redes de oportunidade. E, para Adan, é garantir liberdade criativa e estética. Juntes, mostram que empreender na periferia é mais do que abrir um negócio — é cultivar um território onde viver com dignidade é também uma vitória coletiva.