Conservadorismo expande influência entre jovens
Apesar de avanços em tecnologias, ciência e políticas públicas, na última década o movimento conservador tem se reerguido e vem ganhando mais seguidores. Muito desse aumento de seguidores se deve a grande quantidade de conteúdos e discursos conservadores nas redes sociais, os quais atraem os jovens da geração Z através da persuasão e construção de narrativas.
Em pesquisa desenvolvida pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, foi feita uma análise sobre as trajetórias e narrativas de ativistas da direita radical no Brasil e Alemanha e percebeu-se que tais movimentos ensinam à nova geração sobre a importância da família, mas afirmam que tais valores familiares estão sendo ameaçados e deturpados pelo movimento feminista e pela comunidade LGBTQIA+.
Ainda sobre esta pesquisa, o filósofo Luiz Felipe Pondé explicou em entrevista ao Jornal da Cultura que o movimento conservador influência principalmente os meninos ao argumentar que “eles devem resgatar os valores do passado”, pois a quebra de tradições familiares e a difusão do feminismo são uma ameaça à masculinidade e ao progresso social masculino.
Tal “ameaça ao progresso masculino” a qual estariam se referindo seriam, por exemplo, a dificuldade de manter um relacionamento amoroso com mulheres, os obstáculos de se conseguir um emprego e os contratempos para sair da casa dos pais ou responsáveis aos 18 anos.
A pesquisa da USP ainda destaca que o discurso de direita no Brasil também se pauta na defesa da “família tradicional” através do armamento da população, utilizando-se da narrativa de que o “cidadão de bem” deve ter acesso a meios de proteção contra os “bandidos”. Já os movimentos conservadores alemães pregam os conceitos da agenda anti-imigração junto da teoria de “grand replacement” (grande substituição), argumentando que os imigrantes estariam entrando no país para “tomar o lugar” dos alemães.
Uma pesquisa da universidade britânica King’s College – que ganhou notoriedade por conta da divulgação do Financial Times – mostra que atualmente existe uma grande divisão entre homens e mulheres relativo às suas linhas de pensamento. A pesquisa aponta que, dentre os 3716 participantes de 16 a 29 anos, 37% dos homens acreditam que o termo “masculinidade tóxica” seja inadequado para descrever o comportamento de certos indivíduos, e que um em cada seis homens afirmam que o movimento feminista tem feito mais mal do que bem à sociedade.
Educação e conservadorismo
Considerando que movimentos progressistas têm ganhado mais força e visibilidade nas últimas duas décadas, partidos e defensores do conservadorismo têm visto as escolas como ambiente ideal para reafirmar seus ideais e, por isso, medidas e projetos são instituídos nas escolas com o intuito de barrar discursos progressistas.
A Campanha Nacional pelo Direito à Educação realizou o mapeamento Educação Sob Ataque, analisando casos ocorridos em diversas escolas de todo o Brasil entre os anos de 2013 a 2023, com 2013 marcando o primeiro ano de atividades do movimento Escola Sem Partido. Segundo o mapeamento, foram registrados 201 casos de militarização, perseguição, censura, neofascismo, racismo e outros crimes contra o sistema educacional brasileiro, com uma média de 18 casos de ataques por ano.
Nesse período, o mapeamento identificou 1993 propostas legislativas, as quais ameaçam a educação pública ao propor a militarização e/ou privatização de escolas, além de censurar educadores e professores. Não só isso, mas o mapeamento aponta a precarização da educação como uma medida de interferir no trabalho realizado pelas escolas.
Em conversa com o Centro de Referências em Educação Integral, a professora Rosa Margarida de Carvalho Rocha afirma que a precarização educacional promovida pelos partidos de extrema direita é feita para que as crianças de classes marginalizadas não “tenham qualquer possibilidade de ascensão social” e que sejam suscetíveis à formas de imposição e perda de direitos.
Fonte: Nos limiares do(a) político(a): (des/re)construindo trajetórias e narrativas de jovens ativistas das Direitas Radicais no Brasil e na Alemanha – Besen, Beatriz – Escola de Artes, Ciências e Humanidades, USP