Batalha da Ponte: Wendel vive o hip hop com a comunidade

(Foto: Arquivo Wendel Martins)
A Associação da Ponte pra Cá, em colaboração com o rapper Wendel Martins, organiza no dia 3 de maio uma nova edição da Batalha da Ponte. Evento gratuito que terá como atração inédita um campeonato de basquete de três contra três. A festividade ocorre na Avenida Alberto J. Byington nº 542, na Vila Menck em Osasco.
A Batalha da Ponte conta com um sarau , a apresentação de artistas locais, discotecagem e a batalha de rima, que tem premiação de R$300,00 (trezentos reais) para o seu vencedor.
Wendel Martins destaca como é gratificante organizar eventos de hip hop em sua comunidade, ao lado de outros artistas como Yuri RP. Ele ressalta os “cinco pilares” da festividade: o break dance (dançado pelos b-boys), os DJs, o grafite, os MCs e o conhecimento.
Das aulas de teatro a vida no rap

O também produtor de 29 anos preza pelo acesso à cultura para as crianças, e relembra como a cultura influenciou sua vida. Wendel conta que conheceu a cultura através de seu tio, Cleberson.
Posteriormente, teve um maior contato com a arte através do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) no bairro Helena Maria, onde fez teatro, pintura em tecido, capoeira e outras atividades, na época da escola fundamental.
Em uma dessas aulas a professora de teatro inspirou o futuro rapper ao apresentar a música Castelo de Madeira, do grupo A Família, com a qual Wendel se identificou.
“Aquela música retratava minha realidade e refletia o que eu sentia. Na época, morava em um barraco de madeirite, em uma área invadida de ruas de barro, na favela do piolho no Bel Jardim, em Osasco”, conta Wendel Martins.
“Meu pai estava preso e minha mãe ausente, pois tinha que correr dobrado e dividir o tempo dela entre trabalho e estudo pra nos trazer o sustento. Éramos eu e meu irmão mais novo”, continuou.
Essa música o inspirou a entrar para o mundo do rap: “Sempre gostei de frequentar espaços que fizessem referência à cultura, colava em algumas batalhas somente para ouvir e acompanhar. Depois de um tempo frequentando, criei coragem e comecei a rimar também”, conclui o músico.

Wendel chegou a ficar um tempo sem fazer rap, mas voltou assim que pôde. Inicialmente fazia as composições, mas não “o som”, isso mudou com o convite de seu amigo Young Luks.
A partir daí, fez amigos como: Edinei Matias, Biells e Fanático do coletivo Família FTS, e Formiga MC do Open Mike. Com essa rede, o rapper entrou nestes dois coletivos e se estabeleceu na cena em Osasco.
Pra cá da ponte
A ideia da Batalha da Ponte surgiu após convite da presidente da Associação da Ponte pra Cá para Wendel e outros artistas. A associação oferece toda a estrutura e recursos para o evento ocorrer mensalmente.

Wendel Martins explica que a importância do evento é grande, pois as comunidades de Osasco não possuem muitos espaços para lazer, então os moradores acabam buscando outros locais, como São Paulo, em que existem mais opções.
“O evento ajuda artistas locais a apresentarem seu trabalho, crianças a terem acesso à cultura, país que tem onde levarem seus filhos e pessoas que curtem e acompanham a cultura que não precisam se deslocar tanto para ter acesso. E por ser um evento gratuito traz muito público, o que acaba ajudando até os comerciantes da região”, afirma o rapper.
Wendel, além de compositor, produtor musical e rapper, também é vendedor, e trabalha com compra de veículos, ofício que o remunera por comissão.
Para participar de eventos como a Batalha da Ponte, o rapper de 29 anos solicita apenas uma ajuda de custo para alimentação e transporte, caso o evento aconteça em locais mais distantes.
“O hip hop é um pouco diferente, claro que o dinheiro ajuda, porém fazemos sempre por amor”, diz o músico.
Acontece com frequência
“Periferia no português correto é o extremo de alguma região, lugar distante de centros e urbanização por exemplo. Pra mim é um pouco diferente, eu entendo que a periferia não é o ‘final’ e nem o ‘extremo’ e sim começo”, reflete Wendel.
Continua, “É daqui que sai maioria da população trabalhadora, de onde sai a maior parte de arrecadação de impostos do país, é o lugar em que as pessoas dividem sonhos lúdicos, lutas da vida real, falta de estrutura, educação e saneamento básico e ainda assim movimentam o país”.

Wendel Martins declara sua convicção sobre as comunidades e afirma que se inspira “na luta e na guerra” de sua mãe.
O músico está a produzir um novo EP com 7 músicas com nome de “Sem Paciência”, em que retrata em forma de arte a falta de sabedoria e paciência que leva os jovens à vida do crime.
“Vivemos em um mundo midiático onde em redes sociais pessoas mostram excelentes resultados, mas não mostram ou falam sobre o processo para obtê-lo. Isso faz com que jovens sem estrutura pensem que é fácil e quando se deparam com a realidade fazem escolhas por desespero”, ressalta Wendel.
O rapper tem o sonho de viver de arte, e acredita que é possível, mas é um objetivo distante. Por vezes ele tem que arcar com custos para seus trabalhos na cena artística.
Além do “Sem Paciência”, Wendel Martins está escrevendo um curta metragem, e busca ajudar a ampliar e criar projetos como a Batalha da Ponte para mais áreas periféricas, com o intuito de levar mais lazer, cultura e conhecimento para o máximo de pessoas possíveis.
“Oportunidade não chegou meu mano se jogou
Estava em busca do robô
Talentoso desde a adolescência
Não teve paciência
Acontece com frequência”