Da comunidade ao Grammy Latino
A celebração da música latina no Grammy Latino 2024
Na noite do dia 14 de novembro de 2024, a música latina brilhou mais uma vez com o Grammy Latino 2024, realizado no Miami Beach Convention Center, nos Estados Unidos. A premiação reuniu artistas de diversas nacionalidades para celebrar a riqueza e a diversidade cultural que fazem da música latina um fenômeno global. Entre os destaques da noite, Jota Pê ex-participante do The Voice Brasil em 2017, levou os prêmios de Melhor Canção em Língua Portuguesa, Melhor Álbum de Música Popular Brasileira/Música Afro Portuguesa Brasileira e Melhor Álbum de Engenharia de Som, consolidando seu lugar entre os maiores nomes da música.
As apresentações foram um espetáculo à parte. Anitta, indicada a categoria de Gravação do Ano por “Mil Veces”, se uniu a Tiago Iorc para homenagear o músico brasileiro Sérgio Mendes, que faleceu aos 83 anos em setembro, na voz e violão entoaram juntos “Mas que Nada” e “Mil Veces” da cantora . Além disso, a cerimônia reforçou o papel da música como um ponto de encontro entre diferentes histórias, estilos e identidades.
O impacto cultural da música latina
O Grammy Latino não é apenas uma premiação; é uma celebração da riqueza e da diversidade cultural que a música latina representa. Com raízes profundas em histórias, tradições e lutas de seus povos, cada gênero — do reggaeton ao samba, passando pela salsa, o rap e tantos outros — carrega narrativas únicas que conectam gerações e ultrapassam fronteiras.
Essa conexão fica evidente no alcance global da música latina, que se tornou trilha sonora de movimentos sociais, momentos históricos e celebrações culturais. Ao homenagear esses artistas, a premiação reforça a importância da arte como veículo de expressão e identidade, mostrando que a música é capaz de criar diálogos entre diferentes realidades e promover empatia entre culturas.
Nos últimos anos, gêneros urbanos como o rap têm conquistado espaço significativo na indústria musical e em palcos globais, graças à sua capacidade de contar histórias reais e autênticas. Assim como o reggaeton, que ganhou visibilidade mundial, o rap — nascido como uma forma de resistência e expressão — agora é celebrado por sua força poética e impacto social, tornando-se uma parte essencial da música latina contemporânea.
Esse poder de contar histórias é o que inspira artistas em todos os cantos, como Neive, que traz em suas letras a essência da vida nas periferias brasileiras, reafirmando que a música local também tem o potencial de ressoar globalmente.
Neive e o Rap como Voz de Osasco
No cenário da música urbana brasileira, o rapper Neive desponta como uma voz potente, diretamente das ruas de Osasco. Seu primeiro álbum solo, “Além dos Olhos”, lançado no final de agosto, não apenas está disponível digitalmente, mas agora também chega ao formato físico, simbolizando sua determinação de consolidar uma carreira autêntica e impactante. Neive conta que foi a realidade de sua cidade e das favelas que inspirou suas letras, permitindo que sua vivência traduzisse as dificuldades e sonhos da periferia em versos carregados de verdade.
Para Neive, o rap é uma expressão cultural poderosa que representa e dá voz a histórias marginalizadas. Em suas palavras, “não consigo ver cultura sem o rap, até porque ele já traz a cultura Hip Hop como representatividade e os demais elementos: o break, o grafite, o DJ, a política”. Neive cita influências que vão de Racionais MC’s a ícones do samba e da música sertaneja, demonstrando a riqueza e a diversidade de sua formação musical. Ele acredita que essa mistura de referências faz do rap brasileiro uma força única, capaz de conectar realidades e contextos distintos.
Neive compartilhou que um dos momentos mais marcantes de sua carreira aconteceu no final dos anos 90, quando fazia parte do grupo Visão da Favela e uma de suas letras foi usada por um professor em sala de aula para ensinar sobre revolução. “Isso foi sensacional e me deu a certeza de que o rap não só era uma música revolucionária, mas também causava impacto na vida das pessoas”, afirmou. Essa experiência reforçou seu compromisso de fazer do rap uma plataforma de mudança social.
Quando questionado sobre a importância do Grammy Latino, Neive enfatizou o peso desse reconhecimento para a música brasileira, especialmente para o rap, que historicamente enfrentou resistência e preconceito. Ver o rap e a música latina em destaque é, para ele, um sinal de conquista e progresso. Ele também sonha em levar sua arte para grandes palcos, apesar das dificuldades de um cenário competitivo. “Hoje, com a internet, temos a possibilidade de levar nossa arte para todos os lugares e para o mundo”, destaca.
Ao refletir sobre o futuro, Neive está focado em solidificar sua carreira, mantendo-se fiel às suas raízes e ao seu propósito de representar Osasco e a realidade das favelas. Ele deixa uma mensagem de incentivo para outros artistas independentes: “Sonhar acordado, ter visão real da caminhada, ser verdadeiro, fiel a si mesmo e sensível ao povo. Buscar sabedoria, só pedir pra Deus que Ele dará”.
A história de Neive e seu impacto em Osasco é um reflexo da força cultural que a música latina e o hip-hop representam. Assim como os artistas latinos celebrados no Grammy, como Anitta, que têm suas raízes em histórias de resistência, identidade e expressão, Neive carrega em suas letras e vivências a alma da periferia brasileira.
Seu álbum “Além dos Olhos” é mais do que uma coleção de músicas; é um manifesto sobre o poder da arte em dar voz a comunidades frequentemente marginalizadas. Suas histórias, inspiradas pela vivência na favela, traduzem as lutas e os sonhos de muitos que encontram na música uma forma de existir e resistir.
Enquanto o Grammy Latino celebra a diversidade musical, a trajetória de Neive reforça que o impacto da música não está apenas em grandes palcos internacionais, mas também na capacidade de transformar vidas e contextos locais.
A música é uma linguagem universal que conecta pessoas, culturas e realidades. O Grammy Latino, ao celebrar a riqueza e diversidade da música, reforça como a arte é capaz de romper barreiras e construir pontes. Para artistas como Neive, a música não é apenas um meio de expressão, mas um canal para representar vozes que muitas vezes não são ouvidas.
Sua trajetória destaca a importância de valorizar o que nasce das periferias — onde criatividade, resistência e autenticidade se encontram para produzir arte transformadora. Ao refletirmos sobre a música e seu papel na sociedade, fica claro que cada ritmo, cada verso, carrega histórias capazes de transformar olhares e abrir novos horizontes.
Com o lançamento físico de seu álbum ‘Além dos Olhos’, Neive reafirma seu compromisso em dar visibilidade às histórias que nascem na periferia e ressoam além dela. Esse marco em sua carreira simboliza o poder da arte em levar vozes locais a novos públicos, criando pontes entre o Brasil profundo e o mundo.