Empoderamento na Periferia: Eliane e sua Missão de Transformar Vidas

 Empoderamento na Periferia: Eliane e sua Missão de Transformar Vidas

Foto: Empresária Eliane Belchior.

Matéria escrita por Andressa Dalenogare.

 

No comando de seu próprio negócio, a empresária Eliane Belchior vive a missão de transformar vidas nas periferias de Osasco, onde cresceu. Aos 53 anos, ela leva empoderamento e autoridade à comunidade através dos mais de 28 anos de trabalho no ambiente corporativo.

Acima de tudo, com base nas suas experiências como mulher negra da periferia, realiza um trabalho autônomo humanizado e inclusivo. Eliane é especialista em comportamento e gestão de pessoas e usa uma abordagem de empoderamento e autoridade, onde fala de questões como diversidade, longevidade, racismo e letramento.

A empreendedora lançou um curso ainda este mês, o Destrave, em decorrência da sua formação de Master Coach e conhecimentos e experiências no empreendedorismo. “Muita gente fica travada esperando o Governo ou aguardando a vida melhorar, ou a empresa evoluir. Então, ficamos paralisados precisando da resposta de algo ou alguém”, explica.

 

As vivências resultaram nos conhecimentos para o Destrave

Assim, ela elaborou seu material para destravar quem enfrenta algum tipo de medo que impede ações e decisões profissionais e pessoais. Belchior utiliza de suas próprias vivências, aliada a formação profissional, para transformar comportamentos e demonstrar a cada um sua própria capacidade em realizar múltiplas coisas.

“Várias vezes eu experimentei situações as quais tive que resolver sozinha e sem o conhecimento necessário. Por isso, eu enfatizo a tomada de iniciativa em cada pessoa e a prática de fazer o que precisa ser feito, porque você pode fazer muito mais coisas”, conta.

Eliane continua: “Como mulher negra de periferia e por crescer com a minha mãe me protegendo do racismo, de situações que talvez nem ela tivesse o conhecimento na época, eu passei por ambientes de exclusão ao longo da vida, mas não sabia reconhecer isso”.

O início dessa percepção na vida profissional foi há 3 anos. “Passei por situações que eu achava normal e estava sempre esperando melhorar”, afirma. Foi junto ao Grupo Mulheres do Brasil que encontrou-se: “Participei de uma imersão no Comitê de Igualdade Racial e lá eu me descobri uma mulher negra”, a empresária relata.

 

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Foto: Arquivo pessoal.

 

O despertar trouxe as ferramentas para seguir

Antes disso, profissionalmente inserida em um meio empresarial sem qualidades diversas, a empreendedora levantou questões e levou a diversidade ao local. Entretanto, sem um Comitê para a implementação efetiva de ações e que contribua no entendimento coletivo, o desafio se tornou redundante naquele ambiente.

Ao mesmo tempo, reconheceu as ocasiões discriminatórias que enfrentou no decorrer dos anos. Esse é o momento que Eliane chama de despertar, pois, a fez entender o porquê não seguiu adiante, ao mesmo tempo que a impulsionou ao futuro:

“Enxergar as evidências me trouxe um mal estar, mas muitas ferramentas para seguir. Então, a partir daí eu comecei a trabalhar com grupos de mulheres, afroempreendedores e LGBTQIAPN+.”

O letramento é uma das principais abordagens da profissional. Ela se inseriu nesse campo e aos poucos passou a ensinar na organização onde estava os diálogos cotidianos que são expressões incorretas de linguagem. Belchior exemplifica algumas delas: “Letramento está no entender que você não pode falar ‘eu não tenho mão para isso’; ‘criado mudo’; ‘black friday’; ‘coisa de preto’, por exemplo”.

 

A mulher sempre passa por provações para fazer algo

Junto à empresária Eliane Belchior há toda história de uma mulher resiliente. “Falando da minha vivência, né? Negra, da periferia, eu sofri…”, diz ela ao relembrar sua trajetória onde sofreu violência doméstica e hoje não pode mais ter filhos.

Ainda recorda o enfrentamento de um câncer de mama e como a luta constante ficou mais latente para ela. “Entender que a mulher sempre é discriminada. A mulher passa por adversidades, precisa ser aprovada para dirigir ou até mesmo trocar uma lâmpada, ou abrir um vidro de azeitona”, completa.

Assim, aos olhos de Eliane são formadas mulheres autoritárias que criam maneiras e ferramentas para abrir o seu próprio pote de azeitona. Como resultado, a mulher não se permite ser acolhida ou ficar em uma posição vulnerável.

Nesse ponto, Belchior compreendeu sobre a diversidade das mulheres negras e que todo tratamento, palestra ou atendimento deveria ser diferente de acordo com a pluralidade dos indivíduos.

É onde os gestores, líderes e demais profissionais deveriam prestar de fato atenção aos detalhes. Pois, as práticas sociais da ESG abrangem a inclusão de mulheres e moradores das regiões à margem, trabalhando com as comunidades.

Isso deve ser executado nos ambientes corporativos pela porta da frente. Ou seja, para falar de diversidade e projetar um mercado de negócio diverso, os especialistas devem começar pelos profissionais de atendimento.

O estímulo de Eliane para transformar vidas é alimentado por sua rotina. “É muito comum eu chegar numa loja e as pessoas perguntarem preços por acharem que eu sou vendedora, porque eu sou negra. São coisas assim do meu dia a dia que me estimulam a não deixar acontecer com os outros.”

Belchior ainda complementa ao parafrasear algumas expressões: “Ah, olha, você é incrível, mas eu não quero namorar com você. Minha mãe não vai te querer, porque você é negro. Enfim… tem um monte de nuances aí”.

Em sua conclusão, diversos fatores levam a mulher ao caminho do empreendedorismo ou do serviço de carteira assinada. Ou ainda, a procurar assim como as organizações, um coaching para esclarecer ações e alcançar seus objetivos. “E aí é que entra o curso Destrave”, conclui a especialista.

 

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Foto: Arquivo Pessoal.

 

E o que fazer quando você puder!

Eliane lembra de seus 10 anos e como pensava o que estaria fazendo aos 30, idade de sua mãe na época. Quando criança achava que nessa altura a sua mãe já estava velha, e hoje com 53 anos a empreendedora se vê em sua maturidade intelectual.

Como começou sua carreira cedo, Belchior está aposentada e planeja o que fazer em seus próximos anos de vida. “Eu sou jovem, autônoma, já tenho minha renda e posso escolher. A gente discute muito sobre o que fazer quando você não pode fazer agora, mas, e quando você pode e tem tempo, como prosseguir?”, reflete.

Podemos concluir que Eliane achou a sua nova estrada e alinhou sua missão tanto para transformar vidas empreendedoras, quanto os ambientes corporativos em pontos de referência da diversidade.

Contudo, é o período onde outras pautas também vêm à tona na vida da empresária. Ao mencionar o atual namoro de seu enteado, ela presume que com o tempo poderá acontecer um casamento e uma nova criança em suas vidas.

E se visualiza cuidando de um neto em seus próximos anos. “Aí vou me preocupar com mamadeira, em levar no médico e na escola. Eu moro no centro de Osasco e vejo os avós passeando com seus netos. É avó com a mochilinha no ombro para levar as crianças à escola”, finaliza Eliane Belchior.

 

Andressa Dalenogare

Redatora do Jornal ABorda. Jornalista formada com especialização em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais. Atualmente, pós-graduanda em Jornalismo Digital, pois deseja se desenvolver profissional e humanamente na produção de um jornalismo com propósito.

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