Trabalhadores informais: desafios e cuidados com a saúde
Por Thony Azevedo
A informalidade no trabalho é uma realidade que afeta milhões de brasileiros, representando uma parcela significativa da força de trabalho do país. Trabalhadores informais incluem vendedores ambulantes, trabalhadores domésticos, entregadores, entre outros que não possuem vínculos empregatícios formais. Embora a flexibilidade e a autonomia sejam apontadas como vantagens, esses trabalhadores enfrentam desafios substanciais, especialmente no que diz respeito à sua saúde e bem-estar.
Para aprofundar essa discussão, entrevistamos um vendedor ambulante com mais de 10 anos de experiência nas ruas de Maceió, que não quis identificar seu nome temendo a fiscalização e o confisco de suas mercadorias. Ele será descrito ao longo da matéria com o nome fictício de Márcio.
Desafios na saúde dos trabalhadores informais
- Ausência de proteção social:
Uma das principais dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores informais é a ausência de proteção social. Sem a formalização, esses trabalhadores não têm acesso a benefícios como aposentadoria, seguro-desemprego e, crucialmente, assistência médica. Em caso de doenças ou acidentes, a falta de acesso a um sistema de saúde adequado pode ter consequências devastadoras.
“Quando minha mulher ficou doente, precisei gastar todas as minhas economias para pagar o tratamento. Não tenho plano de saúde, ninguém da minha família tem, então qualquer problema assim vira um grande desafio”, conta Márcio.
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Condições de trabalho precárias:
Muitos trabalhadores informais operam em condições de trabalho inadequadas. Exposição prolongada ao sol, carregamento de peso excessivo, falta de equipamentos de proteção e ambientes insalubres são comuns. Essas condições elevam o risco de problemas de saúde, incluindo doenças ocupacionais, lesões físicas e doenças crônicas.
“Trabalho debaixo de sol e chuva. Já tive queimaduras de sol e, uma vez, escorreguei na calçada molhada e machuquei a perna. Não tenho equipamento de proteção, tudo depende de mim”, relata o vendedor.
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Estresse e instabilidade financeira:
A insegurança financeira é uma realidade constante para os trabalhadores informais, que muitas vezes vivem sem garantias de renda fixa. O estresse associado à incerteza econômica pode agravar problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, além de impactar negativamente o sistema imunológico.
“Muitas vezes me preocupo se vou conseguir vender o suficiente para pagar as contas. Isso me deixa muito nervoso, mas não tem o que fazer a não ser seguir na batalha”, conta Márcio.
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Acesso limitado a serviços de saúde:
Mesmo quando necessitam de cuidados médicos, trabalhadores informais enfrentam barreiras significativas para acessar serviços de saúde. A falta de documentos formais, o custo dos serviços e a escassez de tempo devido às longas jornadas de trabalho contribuem para a negligência da saúde preventiva e do tratamento adequado.
“Não tenho tempo para ficar horas esperando atendimento no posto de saúde. Prefiro continuar trabalhando para botar comida na mesa lá em casa”, explica Márcio.
Cuidados necessários e possíveis melhorias
Políticas públicas inclusivas: É essencial que políticas públicas sejam desenhadas para incluir trabalhadores informais no sistema de proteção social. Programas de saúde que ofereçam acesso gratuito ou subsidiado a serviços médicos são vitais. A ampliação do Sistema Único de Saúde (SUS) para atender a essas demandas é uma estratégia fundamental.
Campanhas de conscientização: Campanhas de conscientização sobre a importância da saúde ocupacional e das práticas seguras no trabalho devem ser promovidas. Educar os trabalhadores sobre ergonomia, uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) e medidas preventivas pode reduzir significativamente os riscos de doenças e lesões.
Apoio a formalização: Incentivar a formalização do trabalho é uma medida crucial. A simplificação dos processos burocráticos e a oferta de incentivos fiscais podem motivar empregadores e trabalhadores a formalizarem suas atividades. A formalização não só garante direitos trabalhistas como também facilita o acesso a serviços de saúde e segurança.
Programas de saúde mental: A criação de programas específicos voltados para a saúde mental dos trabalhadores informais é necessária. Sessões de terapia gratuitas ou a preços acessíveis, linhas de apoio emocional e iniciativas comunitárias podem ajudar a mitigar os efeitos do estresse e da ansiedade relacionados à instabilidade laboral.
Parcerias com ONGs e iniciativas privadas: ONGs e o setor privado podem desempenhar um papel crucial na promoção da saúde dos trabalhadores informais. Parcerias para a oferta de planos de saúde a preços reduzidos, programas de vacinação e check-ups regulares são exemplos de iniciativas que podem ser implementadas.
Valorize a saúde dos trabalhadores informais
A saúde dos trabalhadores informais é um tema que requer atenção urgente e ação coordenada de diversos setores da sociedade. Embora os desafios sejam significativos, existem caminhos viáveis para melhorar a qualidade de vida e a saúde desses trabalhadores. A implementação de políticas inclusivas, a promoção de campanhas educativas e o apoio à formalização são passos fundamentais para garantir que todos os trabalhadores, independentemente de seu status formal, possam ter acesso a um sistema de saúde eficaz e a uma vida laboral digna.
A conscientização da população e o engajamento das autoridades são essenciais para que essas mudanças se concretizem. Ao valorizar e cuidar da saúde dos trabalhadores informais, estamos construindo uma sociedade mais justa e igualitária para todos.
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